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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

A única jovem indiana que não frequentou a universidade, Manar, teve,<br />

todavia, o apoio da mãe, Leila, para prosseguir os estudos. No entanto, o<br />

facto de ter começado a trabalhar ainda durante a frequência escolar,<br />

devido às dificuldades económicas sentidas pela família após a separação<br />

dos pais, tornou difícil a continuidade dos estudos. Tal como Manar,<br />

também Hana se viu obrigada a trabalhar ainda durante a frequência<br />

escolar, após o abandono do pai. Contudo, embora exerça actualmente<br />

uma actividade pouco qualificada sem qualquer vínculo contratual, Hana<br />

completou recentemente o ensino superior e espera vir a exercer uma<br />

profissão na respectiva área de formação.<br />

Entre as jovens guineenses, por sua vez, também Tchambu salienta as<br />

dificuldades de conciliação entre o trabalho e a escola. Estando<br />

actualmente a frequentar o 12.º ano no ensino recorrente, considera<br />

ainda a hipótese de tirar um curso superior:<br />

“Eu, pessoalmente, gostava de terminar o 12.º e de fazer algo<br />

mais. Quanto mais a gente estudar, melhor. Infelizmente eu não<br />

tive essa oportunidade porque tive que ir trabalhar durante o dia e<br />

estudar à noite, e a gente, normalmente, vai deixando a escola<br />

para trás, e, cada ano que passa, vai ficando. Agora, neste<br />

momento, o meu objectivo é mesmo terminar o 12.º, depois de<br />

terminar o 12.º logo se vê. Gostava de fazer um cursinho, mas<br />

pronto, logo se vê. Isto seria muito importante, tanto que<br />

facilitava-me, mesmo a nível de trabalho, a encontrar um trabalho...<br />

Aliás, faz com que a pessoa suba mesmo profissionalmente,<br />

não é O objectivo é mesmo esse, a gente nunca parar, sempre<br />

progredir”. (Tchambu, 24 anos, origem guineense)<br />

As jovens guineenses têm, contudo, geralmente menos escolaridade do<br />

que as indianas, facto que se deve, entre outros factores, aos perfis<br />

sociais mais baixos em que se insere a maior parte destas jovens e às<br />

maiores dificuldades económicas sentidas que levam, frequentemente,<br />

à inserção mais precoce no mercado de trabalho. No testemunho de<br />

Kumbá é visível, porém, a menor necessidade de negociação com os<br />

pais quando se pretende passar para a universidade. De facto, porque<br />

os sistemas de relações em que se enquadram as guineenses são<br />

menos controlados socialmente (no que diz respeito, aliás, a várias<br />

dimensões, como veremos nos próximos capítulos), Kumbá é<br />

incentivada pelos pais a prosseguir os estudos, não se verificando aqui<br />

o receio da interferência de novos valores na estrutura familiar. É de<br />

salientar, no entanto, o facto de se tratar de uma família de estatuto<br />

socioprofissional mais elevado entre as guineenses (ver quadro 4),<br />

o que, como se disse, geralmente influência estes padrões (embora<br />

Maria Abranches<br />

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