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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

De facto, embora o Islão tenha feito parte da história da Europa, foi a imigração<br />

a partir de países muçulmanos que, desde a segunda metade do<br />

século XX, trouxe novamente esta religião aos países europeus. A Europa<br />

acolhe actualmente entre 12 a 18 milhões de muçulmanos, o que faz do<br />

Islão a segunda religião deste continente. Por sua vez, grande parte da<br />

imigração de origem muçulmana na Europa reside em França (cerca de<br />

3 a 4 milhões), na Alemanha (2 a 3 milhões) e no Reino Unido (entre 1 e 2<br />

milhões) (Tiesler, 2000; EUMC, 2003).<br />

O significado destes números tem levantando uma discussão em torno da<br />

designada “islamofobia”, sobre a qual se salienta, em primeiro lugar, a<br />

própria complexidade conceptual. Num encontro levado a cabo em<br />

Bruxelas pelo European Monitoring Centre on Racism and Xenophobia,<br />

a 6 de Fevereiro de 2003, discutiu-se precisamente as manifestações de<br />

“islamofobia” na Europa e o distanciamento entre este conceito e os<br />

conceitos de racismo e xenofobia que se deve, em primeiro lugar, ao<br />

discurso altamente politicizado que envolve o primeiro. Pressupondo a<br />

emergência de uma “ameaça islâmica”, os termos de racismo e xenofobia<br />

são, de certo modo, estendidos à questão religiosa, em que os aspectos<br />

enfatizados passam a fazer parte do sistema de crenças e valores, considerados<br />

ameaçadores para a cultura e religião autóctones.<br />

Referindo-se ao nascimento de um Islão europeu, caracterizado pela<br />

recomposição de uma religiosidade em função da globalização, Olivier<br />

Roy distingue quatro tipos de resposta da população muçulmana imigrante,<br />

determinados por uma nova configuração do espaço identitário<br />

próprio das sociedades ocidentais contemporâneas (Roy, 1999). Entre<br />

tendências de fechamento na (re)construção identitária desta população,<br />

efeitos da coerção e pressão social e familiar presentes nestes grupos,<br />

são identificados outros tipos de reconstrução da religiosidade, dado que<br />

este não é um processo linear e constante. Não sendo, portanto, mutuamente<br />

exclusivas, verifica-se com frequência a conjugação de mais do<br />

que uma das categorias definidas pelo autor.<br />

As duas primeiras formas de resposta e organização desta população<br />

correspondem à construção de uma identidade comum estritamente<br />

religiosa e universal, em que as fronteiras socioculturais com a população<br />

autóctone se tornam claras. Assim, estas formas de expressão do<br />

Islão no Ocidente representam, segundo o autor, a formação de<br />

comunidades. A diferença entre as duas – definidas por Olivier Roy como<br />

neofundamentalista e neoétnica – centra-se no facto de a primeira não<br />

aceitar a flexibilidade religiosa, definindo o sujeito enquanto parte de um<br />

sistema de normas religiosas caracterizadas em termos de lícito e ilícito<br />

Maria Abranches<br />

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