PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
contentamento por poder finalmente iniciar a dieta de que considera<br />
precisar, enquanto Rafiah e Nisa salientam os benefícios para a saúde:<br />
“Olha, eu faço o Ramadão, não por ser uma regra, percebes<br />
Também porque é uma regra, porque me ensinaram que devia ser<br />
feito e habituei-me a fazê-lo, apesar de eu achar que há regras<br />
que, se eu não cumprir, não é por isso que eu sou uma grande<br />
pecadora, nem nada. Mas o que eu acho é que eu sinto de tal<br />
modo uma paz, pá... Acho que este tempo todo de estômago vazio,<br />
já está comprovado… Eu tenho um tio da minha mãe que é médico<br />
e diz que faz muita bem purificar o estômago. Durante um mês eu<br />
estou a libertar toxinas, estás a ver Desde o nascer do sol até ao<br />
pôr-do-sol”. (Rafiah, 21 anos, origem indiana)<br />
“Eu ainda faço, porque sabes que o jejum faz bem mesmo em<br />
termos de saúde. E, por isso, eu ainda vou fazendo alguns jejuns”.<br />
(Nisa, 24 anos, origem indiana)<br />
Um elemento comum a várias jovens e mulheres de menos idade,<br />
sobretudo guineenses, prende-se com o desejo de vir a praticar a religião<br />
de forma mais acentuada numa fase mais tardia do ciclo da vida, num<br />
estádio onde as tentações face aos prazeres quotidianos não serão tão<br />
difíceis de evitar. A esta intenção liga-se a peregrinação a Meca, um dos<br />
pilares do Islão que, ao ser cumprido, deverá significar um comportamento<br />
mais adequado às normas e valores religiosos. Por esse motivo,<br />
entre as guineenses, a peregrinação é algo a ser realizado mais tarde:<br />
“Ir a Meca tem muita importância. Gostava de ir quando tivesse<br />
mais ou menos, pronto, aquela idade que, ao fim e ao cabo, já não<br />
se pode pecar muito, que é para a pessoa ficar mais pura, não é<br />
Sim, gostava imenso de ir, por acaso. Eu acho que é o sonho de<br />
todo o muçulmano. Estou a pensar fazer mais tarde”. (Tchambu,<br />
24 anos, origem guineense)<br />
“Olha, a minha avó é que já foi a Meca. Tem algumas amigas da<br />
minha mãe também que já foram, mas a minha mãe diz que ainda<br />
é cedo para ela ir. Sabes que elas também quando vão a Meca<br />
ficam mais... pronto, assim mais bem dentro da religião. Então, as<br />
pessoas, como querem ainda andar aí a desfrutar, não vão. Ela diz<br />
que ainda é nova. Ela quer ir, mas ainda não, mais tarde. Eu<br />
gostava de ir, mas por agora também não está mesmo no meu<br />
pensamento ir”. (Diminga, 25 anos, origem guineense, filha de<br />
Mariatu)<br />
“Não, ainda não fui, mas a minha mãe já foi. Eu ainda não, eu<br />
estou à espera de ir quando já tenho uma idade… Quando tu és<br />
jovem tens a tendência mais de pecar do que quando és mais<br />
velha. Os mais velhos já têm idade, não podem brincar… E quando<br />
Maria Abranches<br />
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