11.01.2015 Views

PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

negociação entre o que pode ser feito e o que pode ser visto pelos outros,<br />

muito presente entre a generalidade das indianas, não tem o mesmo peso<br />

entre as guineenses:<br />

“Muçulmanos é pouco, tenho uma prima minha, e de resto tenho<br />

mais amigos angolanos. Mesmo guineenses tenho muito poucos,<br />

eles até costumam dizer que eu normalmente fujo sempre<br />

daquele ambiente, não é De vez em quando vou a discotecas<br />

africanas, discotecas portuguesas... Vou a tudo. Até acho que<br />

frequento mais discotecas portuguesas do que africanas”.<br />

(Tchambu, 24 anos, origem guineense)<br />

“A maioria das pessoas que eu conheço não são muçulmanos.<br />

Uma das minhas melhores amigas é caboverdiana inclusive,<br />

portanto... E o meu melhor amigo é guineense mas é católico. (...)<br />

Estou com 19 anos e desde os meus 16, salvo erro, que saio à<br />

noite. Também não sou uma viciada na noite, mas de vez em<br />

quando saio à noite, a discotecas africanas. O meu pai gosta de dar<br />

certas ordens: «Olha, faz isto, faz aquilo, não-sei-quê», mas nunca<br />

foi de proibir, de dizer: «Não, não vais fazer isso porque é contra a<br />

nossa religião», não”. (Kumbá, 19 anos, origem guineense)<br />

Outra especificidade de algumas jovens, nomeadamente Aisatu e<br />

Tchambu, guineenses, e Hana, de origem indiana, consiste na ausência<br />

dos pais em Portugal, facto que dilui o controlo familiar. Aisatu e Hana<br />

confirmam, todavia, o controlo exercido na altura em que viviam com eles:<br />

“Na Guiné controlavam, o meu pai sobretudo. A minha mãe é<br />

muito amiga, mas o meu pai era um bocadinho mais rígido. É uma<br />

coisa bem controlada, o meu pai era muito rígido e impedia muita<br />

coisa, e nós não podíamos sair, só saíamos quando íamos para a<br />

escola. (...) A gente tinha medo, mesmo muito medo”. (Aisatu, 23<br />

anos, origem guineense)<br />

“Ele era mesmo daquele género assim, estávamos nós a brincar,<br />

ou assim, quando ele dissesse: «Está tudo calado», toda a gente<br />

tinha que se calar. (…) Era bué da rígido, estás a perceber Havia<br />

regras para tudo, havia horários para tudo, e nós tínhamos que<br />

cumprir aquilo. (...) Agora, de vez em quando, vou ter com as<br />

minhas colegas, as minhas amigas, entendes Coisas assim<br />

normais. Discotecas, vou mais a africanas, mas também vou<br />

muito assim a bares”. (Hana, 23 anos, origem indiana)<br />

Fatumata, a jovem guineense de 21 anos que veio recentemente juntar-se<br />

ao cônjuge em Portugal, não estabeleceu ainda redes de amizade no país,<br />

referindo ter algum receio de vir a sentir-se controlada pelo marido.<br />

Contudo, a atenção dada pelos familiares das raparigas indianas à<br />

Maria Abranches<br />

176

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!