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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

dizer, estão mais habituadas entre elas, não é Mas eu sempre<br />

tento puxar, porque eu tenho convívio com elas, porque eu meto-<br />

-me com toda a gente”. (Fatimah, 58 anos, origem guineense)<br />

Das jovens indianas, por sua vez, apenas Rafiah pertence e participa<br />

activamente numa associação de carácter juvenil e de âmbito religioso,<br />

a Comissão de Jovens da Mesquita, também representada por jovens<br />

de origem indiana, cujos objectivos se prendem com a solidariedade e o<br />

convívio. Inas e Nisa afirmam já ter feito parte dessa comissão, e Inas<br />

salienta mesmo as redes de amizade criadas nesse contexto associativo,<br />

através da participação nas actividades da associação.<br />

“Depois da Comissão de Jovens da Mesquita é que comecei a ter<br />

amigos muçulmanos. Agora é que eu deixei, após ter casado e ter<br />

a minha filha acabei por deixar. (...) Fomos nós que fundámos a<br />

biblioteca. (...) E pronto, e eles agora ainda continuam, ainda no<br />

sábado passado houve uma excursão para os velhinhos,<br />

deficientes e mais carenciados ao Oceanário, foram ao Guincho,<br />

foram almoçar... Foram os jovens com eles”. (Inas, 27 anos,<br />

origem indiana)<br />

Latifah, por seu lado, ressalta que o conservadorismo do seu pai não lhe<br />

permitiu a participação em associações mistas, na medida em que o<br />

espaço ocupado por rapazes e raparigas deve, de acordo com as<br />

tradições, ser separado:<br />

“Nada de associações, não. Vem outra vez aquele lado tradicional,<br />

sabes Lá há rapazes, a associação envolve rapazes e raparigas,<br />

e isso o meu pai já não... Onde entrasse rapazes já via a coisa mal<br />

parada”. (Latifah, 27 anos, origem indiana)<br />

Samirah é, por sua vez, a única entrevistada que se associou a uma<br />

organização de carácter não religioso ou étnico, a Associação Portuguesa<br />

de Mulheres Empresárias (APME).<br />

É, todavia, entre as guineenses, que o associativismo de carácter étnico<br />

adquire maior visibilidade. Embora registem geralmente números mais<br />

baixos de pertença e participação associativa do que os homens – facto<br />

que, de resto, corresponde às taxas de participação social e política das<br />

populações ocidentais, menos significativas entre as mulheres (Machado,<br />

2002) – é importante não esquecer que a sociabilidade feminina se encontra<br />

fortemente desenvolvida na Guiné-Bissau, onde, tal como noutros<br />

países da África Subsariana, as redes de solidariedade e entreajuda<br />

ocupam um papel fundamental nas relações entre as mulheres (Nantois,<br />

1997). Estes sistemas organizativos são, assim, transportados da terra de<br />

Maria Abranches<br />

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