PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
A primeira deslocou-se aos 8 anos para Inglaterra, onde realizou todo o<br />
resto do seu percurso escolar, tendo vindo mais tarde, aos 22 anos, ainda<br />
solteira, com a mãe, para Portugal. A segunda veio com 15 anos para<br />
Portugal, acompanhando os seus familiares, tendo aqui completado os<br />
estudos. Porque, à semelhança das mais jovens, não partiu delas a<br />
decisão de vir para Portugal, ao longo da análise estas duas entrevistadas<br />
são, por vezes, destacadas de qualquer um dos dois grupos etários (entre<br />
os 19 e os 27 ou entre os 37 e os 69 anos). Ayra, aliás, sendo a irmã mais<br />
velha de Inas, uma das jovens da amostra, foi entrevistada no sentido de<br />
perceber as formas distintas de transmissão, recepção e negociação de<br />
valores das duas irmãs, com 16 anos de diferença, com os respectivos<br />
ascendentes, tendo a primeira sido influenciada por factores particulares,<br />
como a presença da avó no agregado familiar, cuja interferência na<br />
educação dos netos mais velhos foi marcante. Para além deste caso de<br />
parentesco particular, há duas mães e filhas entre as entrevistadas de<br />
origem indiana: Raja e Latifah e Leila e Manar. Samirah e Nisa são, ainda,<br />
madrasta e enteada, cuja ligação forte e o facto de se considerarem como<br />
mãe e filha me levou também a considerá-lo, fazendo as devidas<br />
ressalvas sempre que necessário, nomeadamente a nível dos respectivos<br />
percursos familiares.<br />
Os tempos de chegada destas mulheres são, como vimos, diferentes,<br />
tendo todas as jovens indianas, ao contrário da maioria das jovens<br />
guineenses, nascido em Portugal ou chegado, no máximo, com 5 anos de<br />
idade. Este facto deve-se ao carácter mais recente da imigração<br />
guineense em geral, que também se traduz no curto tempo de residência<br />
que caracteriza algumas das guineenses mais velhas.<br />
A propósito das várias especificidades da amostra e da dificuldade em<br />
categorizar as entrevistadas por escalões etários de contornos<br />
sociologicamente rigorosos, é importante referir também a questão da<br />
nacionalidade. Comparando os quadros 1 e 2 podemos verificar que as<br />
mulheres e jovens de origem indiana da amostra têm, em maior<br />
proporção do que as guineenses, nacionalidade portuguesa, o que, de<br />
resto, já acontecia em Moçambique. De facto, os naturais do antigo<br />
Estado Português da Índia (que correspondem geralmente aos pais, ou<br />
até mesmo aos avós, da maioria das mulheres mais velhas entrevistadas)<br />
eram considerados portugueses se nascidos antes de 1961 (ano da<br />
anexação desses territórios pela União Indiana) e, mesmo os que<br />
residiam em Moçambique aquando do processo de independência, em<br />
1975, tiveram a possibilidade de conservar a nacionalidade portuguesa,<br />
bem como os seus descendentes até ao terceiro grau. Por este motivo,<br />
embora o conceito de imigrante ou imigração seja utilizado, num sentido<br />
Maria Abranches<br />
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