PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
ense, não posso negar. Eu não nasci cá, nasci na África, sou<br />
africana. E cada dia está a entrar gente, cada dia mulheres<br />
muçulmanas entram. Há muito, muito muçulmano aqui nessa<br />
terra, muito mesmo”. (Musuba, 69 anos, origem guineense)<br />
Apesar de estas associações serem interétnicas, a liderança muçulmana<br />
é visível, começando pelos nomes islamizados que as caracterizam. A<br />
excepção é a Gente Rica, demonstrando este nome a existência de uma<br />
apropriação instrumental do português (Quintino, 2004). Esta associação<br />
é a mais antiga das quatro, constituindo o sistema de quotização<br />
periódica e a partilha das despesas em comidas e bebidas para as festas<br />
uma forma de organização comum a todas elas:<br />
“Sou sócia de um grupo que nós formámos. O meu grupo<br />
chama-se Gente Rica, é um grupo que nós formámos, assim, na<br />
brincadeira. Quando os nossos filhos nasceram, cada um que<br />
tinha bebé, a gente juntava e íamos fazer festa em casa da<br />
pessoa no dia do baptizado, e, então, contribuíamos sempre para<br />
a pessoa para quem a gente ia. A gente cozinhava, comia e<br />
dançava... Pronto, então formámos assim esse nome de<br />
brincadeira a gozar entre nós, mulheres, até que esse nome<br />
seguiu mesmo de verdade. Acabámos mesmo por formar o<br />
grupo Gente Rica e legalizámos o grupo. Pronto, agora há mais<br />
grupos, mas o primeiro grupo cá em Lisboa é Gente Rica. (…) Nós<br />
somos trinta e tal, ou mais, no Gente Rica, não sei bem. A gente<br />
paga todos os meses uma quota, era 2 Euros e 50, que é 500<br />
escudos, agora já é 5 Euros, que é 1.000 escudos, por mês.<br />
Juntamos, guardamos no banco e, então, quando alguém tiver<br />
problemas, a gente ajuda, tira um x para ajudar a pessoa. Se a<br />
gente quiser fazer uma festa, tiramos de lá se tivermos o fundo<br />
e vamos fazer a nossa festinha. E é assim, para distrair”.<br />
(Mariatu, 44 anos, origem guineense)<br />
A participação masculina nas festas organizadas por estas associações é,<br />
por sua vez, menos visível, confirmando-se o papel predominante das<br />
mulheres, quer na organização, quer na participação nestes momentos<br />
de convívio:<br />
“Esse Sabú N’hima é o meu clube. (...) Nas festas tem que dançar,<br />
já sabe, é como aquele dia, é uma festa muito grande. Homens<br />
vão lá mas é muito mais mulheres. Homens podem ir, mas eles<br />
chegam, todos sentam. Se há alguma festa, todos eles sentados,<br />
só mulheres é que dançam”. (Musuba, 69 anos, origem guineense)<br />
Maria Abranches<br />
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