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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

somos mais crianças é uma questão de respeito. Se calhar já<br />

não...” (Zayba, 23 anos, origem indiana)<br />

“O meu pai vive em Espanha, e sítios assim tipo Benidorme,<br />

Alicante, Palma de Maiorca, Canárias... Esses sítios todos... Eu lá<br />

ia à praia todos os dias de fato de banho, agora aqui em Portugal<br />

não vou, porque aqui há mais muçulmanos, e lá estás lindamente,<br />

lá não há muçulmanos, não há nada, estás bem”. (Manar, 25 anos,<br />

origem indiana)<br />

Manar, por seu lado, afirma ter passado a atribuir maior atenção aos<br />

cuidados com a forma de vestir após a peregrinação da mãe a Meca, a<br />

pedido desta, com o argumento de não a desrespeitar. Considera, todavia,<br />

que não é uma questão fundamental da religião, mas antes um aspecto<br />

que deve mesmo ser ajustado à sociedade onde se insere, concordando<br />

com uma adaptação ao vestuário ocidental. Tal como para as outras<br />

jovens, o local de culto constitui, para ela, a única excepção, devendo aí<br />

ser usado o vestuário tradicional:<br />

“Na mesquita tudo bem, na mesquita tens que entrar tapada, com<br />

uma túnica, o lenço, e não-sei-quê, mas quando estou assim noutros<br />

sítios, a trabalhar, no dia-a-dia, já não uso nada disso, uso<br />

roupas... um bocado com respeito, não é Mais por respeito,<br />

porque a minha mãe fez o Hajj, e uma mulher que usa lenço, a<br />

filha chegar toda decotada, e tal, não fica bem. (...) Mas não tanto,<br />

não uso lenço. Eu acho que o vestuário é um pormenor, porque<br />

não é aquele pecado muito grande. É aquela coisa, pronto,<br />

estamos na Europa, toda a gente veste normal, e estar a chegar<br />

numa escola ou num trabalho... (…) No dia-a-dia acho que, como<br />

estou na Europa, não devia ser... Pronto, devia estar como os<br />

outros também, porque não é o vestuário de certeza... O vestuário<br />

conta, mas o íntimo da pessoa é que conta mais”. (Manar, 25 anos,<br />

origem indiana, filha de Leila)<br />

“Olha, é mais quando vou à mesquita. Mas se reparares também<br />

– eu não sei se isto tem a ver com a religião – há determinados<br />

países onde há vestimentas tradicionais. Por exemplo, se calhar,<br />

se eu fosse ao Irão, não me haveria de sentir tão bem vestindo-me<br />

assim, percebes” (Yasmin, 19 anos, origem indiana)<br />

“Por exemplo, em Londres tu tens uma comunidade muçulmana<br />

muito maior, e elas vestem-se mesmo de maneira muçulmana,<br />

com o véu, e isso tudo. E eu lá já me sinto mal estar assim vestida,<br />

percebes E, tipo, diariamente já me visto assim porque, pronto, o<br />

sitio faz-te... Aqui já é diferente. Agora, lá, como estão todos<br />

assim, já tu te sentes mal em estares vestida mais ocidental. Pá,<br />

é o sítio”. (Inas, 27 anos, origem indiana)<br />

Maria Abranches<br />

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