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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

religiosos, associados à imagem destas mulheres, coexistem, assim, com<br />

a categoria cultural definida como modernidade, através de uma<br />

negociação gerida pela interacção social. A diferença, por um lado, e a<br />

relação, por outro, são, de resto, elementos fundamentais nestes jogos de<br />

distinção (Bourdieu, 1979).<br />

Trata-se de um universo efectivamente complexo em que a tradição<br />

islâmica, a tradição local e a modernidade, através dos processos<br />

coloniais e da globalização, se cruzam na percepção das identidades<br />

(Cardeira da Silva, 1999). Do mesmo modo, no seu trabalho sobre o Islão<br />

em contexto imigratório, Joan Lacomba Vásquez identifica, através da<br />

prática da religião, o carácter dinâmico e a capacidade de adaptação que<br />

esta representa. “O Islão reaprendido é o fruto da aculturação, do<br />

contacto e da interacção com a sociedade de acolhimento” (Vásquez,<br />

2001: 303). É, todavia, importante ter também em conta que a reinterpretação<br />

não constitui “o espaço absolutizado da autonomia, da<br />

criatividade e da emancipação” (Madureira Pinto, 1991: 228), tratando-se<br />

aqui apenas de uma flexibilização das normas que não conduz, de facto,<br />

a uma autonomia absoluta.<br />

A propósito das redes de sociabilidade, conceito central nesta pesquisa,<br />

Maria Cardeira da Silva chama a atenção para a importância das redes<br />

intragénero, na medida em que, nas sociabilidades femininas, a mulher<br />

destaca-se da passividade e da dependência face ao homem, ganhando<br />

papel activo e maior autonomia, tal como demonstra a análise do último<br />

capítulo deste trabalho, relativamente à organização das redes de entreajuda<br />

e convívio femininas, sobretudo entre as mulheres mais velhas.<br />

A autora baseia-se ainda no conceito de proximidade para substituir os<br />

suportes clássicos do conceito de parentesco na análise destas redes.<br />

Dado que as mulheres se afastam do grupo familiar de origem após o<br />

casamento, criando mais facilmente relações próximas num espaço<br />

exterior ao do parentesco, as redes de sociabilidade estabelecidas<br />

incluem elementos que vão para além dos parentes, passando pelos vizinhos<br />

ou pelas amizades próximas (Cardeira da Silva, 1999). O apoio,<br />

solidariedade e convívio já identificados entre as mulheres de origem<br />

indiana e guineense, no interior dos respectivos grupos, confirmam esta<br />

ideia de proximidade. Para além disso, entre estas mulheres, sobretudo<br />

entre as guineenses, à semelhança das mulheres marroquinas em Salé,<br />

sobre as quais incide o trabalho de Maria Cardeira da Silva, é criada uma<br />

espécie de parentesco prático para uso quotidiano, em que parentes,<br />

amigos e vizinhos se confundem (Cardeira da Silva, 1999). No decorrer do<br />

trabalho de campo foi, de resto, recorrente a referência a primos ou<br />

Maria Abranches<br />

196

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