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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

O testemunho de Nisa exemplifica ainda a oficialização do noivado, um<br />

dos momentos de passagem no percurso até ao casamento. Também<br />

nesta fase é possível observar uma alteração dos códigos de conduta<br />

tradicionais. Deixam, assim, de ser obrigatoriamente os pais do noivo a<br />

oficializar o pedido de casamento, passando este a poder ser apresentado<br />

pelo próprio noivo, embora frequentemente em presença dos seus pais.<br />

Nisa, que namora há quatro anos, salienta negativamente o facto de o<br />

parceiro não ser praticante, motivo de conflito entre ambos e, sobretudo,<br />

realidade que tem sido ocultada do pai:<br />

“Eu, quando começo a namorar com ele, não sabia que ele não<br />

praticava, percebes E não sabia, por exemplo, que ele bebia.<br />

Porque se ele me dissesse, no início, quando eu o estava a<br />

conhecer, acredita que havia uma barreira. Porque lá está, eu sou<br />

uma pessoa que até pratico minimamente a religião, faz-me<br />

confusão se há alguém... É verdade, essas coisas é importante<br />

que estejam em sintonia, porque senão, já viste, há uma série de<br />

coisas que depois vão ser influenciadas. É os filhos que se tornam<br />

um problema... Ele acredita em Deus, mais nada, e há coisas que<br />

eu quero passar para os meus filhos também, percebes Porque<br />

eu acho que é importante. Entramos muito em choque aí, muito.<br />

Não sei como é que vai ser”.<br />

(...)<br />

“A minha mãe sabe que ele não é praticante, mas o meu pai não.<br />

O meu pai não havia de gostar muito de saber porque, lá está, ser<br />

muçulmano e não praticar... O meu pai: «Fogo! Até bateste certo,<br />

até conseguiste acertar num muçulmano e depois não pratica».<br />

O meu pai parte do princípio que ele pratica”. (Nisa, 24 anos,<br />

origem indiana)<br />

Para além disso, Nisa demonstra, nos seus discursos, a pressão<br />

existente face à escolha do parceiro. De facto, num contexto em que as<br />

redes de amizade se estabelecem sobretudo na faculdade, a limitação<br />

dessa escolha à mesma origem étnico-religiosa é geralmente dificultada:<br />

“Conheci-o porque ele estava ao pé de mim na [faculdade]. (...)<br />

E, lá está, eu acho que só me safei porque não tive colegas<br />

homens, digo-te muito sinceramente, porque eu não tinha muito<br />

convívio com homens na faculdade, percebes Porque com quem<br />

é que tu convives no teu dia-a-dia Colegas, não é” (Nisa,<br />

24 anos, origem indiana)<br />

Já no que diz respeito às duas jovens que não se encontram actualmente<br />

sob a responsabilidade de familiares, devido ao falecimento dos pais, as<br />

Maria Abranches<br />

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