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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

às actividades familiares. Sendo extremamente complexa a realidade<br />

inerente às estratégias desenvolvidas pelas mulheres migrantes, podem<br />

ser as próprias circunstâncias económicas, muitas vezes adversas nos<br />

primeiros anos da imigração, a contribuir para realizar esse desejo de<br />

inserção profissional autónoma da mulher. Fatimah e Mariatu, de origem<br />

indiana e guineense, respectivamente, testemunham essa necessidade e<br />

os processos de negociação em que entraram com os respectivos<br />

cônjuges, para conseguirem iniciar uma actividade em Portugal:<br />

“Eu, sempre que ia trabalhar fora, ele nunca queria, mas eu sempre<br />

convenci ele, porque era mais para ajudar a minha família.<br />

A mim ele podia-me dar, mais aos meus filhos, mas à minha<br />

família ele não é obrigado a dar, né Eu, como tinha a minha mãe<br />

e tenho os meus irmãos, sei que eles precisam e, então, eu trabalhava<br />

para dar um apoio lá atrás”. (Mariatu, 44 anos, origem<br />

guineense, em Portugal desde 1977)<br />

O seguinte testemunho de Raja exemplifica ainda as transformações<br />

ocorridas nas estruturas destas famílias em Portugal, que também contribuem<br />

para a necessidade do exercício de uma actividade remunerada<br />

por parte das mulheres. A tendência, já referida, para a diminuição da<br />

organização da família em torno do agregado doméstico dos sogros<br />

obriga, de facto, muitas vezes, à contribuição feminina para os<br />

rendimentos familiares:<br />

“Todos querem casamento, apartamento, não é E, se é assim,<br />

então só o marido a ganhar não dá, porque o preço das casas,<br />

mesmo as casas arrendadas, é só o vencimento do marido.<br />

Depois comem o quê Portanto, a mulher também… aqui neste<br />

tempo também tem que trabalhar. Porque antigamente nós não<br />

tínhamos que trabalhar com os nossos maridos, ou mesmo ir lá<br />

fora para trazer o sustento, não é”. (Raja, 49 anos, origem<br />

indiana, em Portugal desde 1981)<br />

Mais reveladora da diferença entre estes dois conjuntos de mulheres,<br />

ou seja, de um maior fechamento intra-étnico entre as indianas do que<br />

entre as guineenses, e de uma condição económica privilegiada para as<br />

primeiras, é a análise da inserção profissional, na origem e no destino,<br />

das mães das jovens entrevistadas (ver quadro 4), através da informação<br />

recolhida junto destas, quando as famílias directas não puderam ser<br />

abordadas. A maioria das mães das raparigas de origem indiana não<br />

trabalhava fora de casa, enquanto todas as mães das jovens guineenses,<br />

excepto Mariatu, mãe de Diminga, exerciam uma actividade profissional.<br />

Maria Abranches<br />

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