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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

suas percepções acerca de um futuro casamento demonstram bem o que<br />

significa, a este nível, a ausência de pressões familiares:<br />

“Não, quer dizer, isso... Se fosse mais antigamente, se calhar, se<br />

vivesse com o meu pai ou se vivesse em casa dos meus avós, tinha<br />

que pensar mesmo assim, tinha que ser um muçulmano e pronto,<br />

porque sempre mentalizaram-me isso, percebes Só que, olha,<br />

estou sozinha, é como calhar”. (Tchambu, 24 anos, origem guineense,<br />

não namora actualmente)<br />

“Olha, é assim, eu se gostava ou não, não sei, estás a perceber<br />

Se calhar até não gostava, porque é assim… Se eu casasse com<br />

um muçulmano que tivesse uma mentalidade como eu, mais<br />

aberta, tudo bem. Agora se fosse daqueles rígidos que me iam<br />

obrigar a andar tapada dos pés à cabeça, e não-sei-quê… Ó pá,<br />

não, isso não. Desculpa lá, mas isso para mim não, porque isso<br />

para mim são coisas que não têm lógica, não têm mesmo lógica,<br />

percebes Isso não”. (Hana, 23 anos, origem indiana, não namora<br />

actualmente)<br />

O processo de controlo do período de namoro e da sexualidade das filhas<br />

faz essencialmente parte do universo da população de origem indiana. As<br />

guineenses, como já foi referido, embora também atribuam uma forte<br />

importância à origem do marido das filhas, que deverá pertencer ao<br />

mesmo grupo étnico, não estabelecem o mesmo grau de controlo face a<br />

um período precedente de namoro e à experiência sexual que poderá<br />

fazer parte dele. Enquanto a virgindade feminina estrutura a vida social e<br />

familiar das mulheres de origem indiana, no sentido em que,<br />

tradicionalmente, representa a garantia da pureza enquanto valor<br />

fundamental para poder entrar na família do futuro cônjuge (Hermet,<br />

1997), as mulheres de origem guineense referem a importância do valor<br />

que lhes foi transmitido, mas também a impossibilidade de estabelecer<br />

esse controlo sobre a sexualidade das filhas, em Portugal, embora elas<br />

próprias tenham sido alvo dessa vigilância pelas suas mães, na Guiné:<br />

“Eu não vi nada. Agora, os miúdos de hoje, o que é que eu tenho<br />

de ver Nada. Não me importa dessas coisas, eu sou mãe<br />

moderna. As coisas mudam, ficam cada vez mais amodernizadas,<br />

a gente não vai ficar a mexer nisso. Nós já apanhámos isso, os<br />

nossos meninos acho que não. (...) Eu gostaria de ser o marido da<br />

minha filha o primeiro, se ela me entendeu. Se ela não me<br />

entendeu eu não posso fazer nada”. (Fulé, 44 anos, origem<br />

guineense)<br />

“É uma coisa que a religião muçulmana, sempre eles querem que<br />

a pessoa continue a ser virgem até ao casamento. Mas isso agora<br />

Maria Abranches<br />

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