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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

origem e adaptados ao novo meio. Com a principal função de criar e gerir<br />

redes de entreajuda em vários domínios da vida do grupo, nomeadamente<br />

em casos de doença, acidente, morte, viagens imprevistas, ou apoio na<br />

realização de cerimónias ligadas ao nascimento ou ao casamento em<br />

Portugal ou no país de origem, estes mecanismos ligam-se não só a laços<br />

de parentesco, mas também a relações de amizade ou vizinhança, e<br />

atribuem às mulheres o papel principal. São liderados por uma “rainha”,<br />

cuja titularidade assenta no seu prestígio social ou na idade, verificandose<br />

mais uma vez o peso da hierarquia estabelecida de acordo com a<br />

classe etária (Quintino, 2004).<br />

“Formámos um novo grupo que começou dia 18, salvo erro, de<br />

Maio deste ano, o grupo Djamano-diata. Quer dizer alguma coisa<br />

no muçulmano como “tempo bom”, se traduzir dá isso, pronto.<br />

Fizemos uma festa aqui na semana passada, foi a tal do domingo<br />

na Damaia. Não temos ainda bem sítio onde a gente se encontra,<br />

de maneira que ainda não acabámos de organizar o grupo. Depois<br />

de acabar de organizar o grupo temos que organizar mais uma<br />

festa para angariar os fundos do grupo, porque as pessoas estão<br />

aqui, são mais novas do que nós, têm um desgosto – alguém<br />

morre na Guiné, a mãe morre ou um familiar – não têm como ir,<br />

não têm como fazer as coisas. Portanto, a gente junta e damos<br />

aquela quota e levamos para quem tem desgosto, ajudamos e<br />

damos mais ânimo a ele para não ficar triste, para saber que tem<br />

as pessoas ainda perto dele ou dela. Nós fundámos esse grupo<br />

por essa razão”. (Fulé, 44 anos, origem guineense)<br />

As redes de solidariedade e convívio que se desenvolvem entre as<br />

mulheres na Guiné-Bissau não possuem geralmente nome próprio,<br />

sendo a atribuição de um nome uma estratégia de formalização imposta<br />

pela adaptação à nova sociedade onde se inserem (Quintino, 2004). Para<br />

além do grupo Djamano-diata, o mais recente entre os guineenses,<br />

mencionado no testemunho de Fulé, Sabú N’hima, Badin Clube e Gente<br />

Rica são outros três exemplos de associações cujas festas, organizadas<br />

com regularidade, para além de serem um meio de ajudar membros do<br />

grupo necessitados, constituem momentos importantes de convívio:<br />

“(...) Porque aqui, nós, guineenses, nós não somos nada agora,<br />

porque o nosso governo não lida com o governo daqui. O governo<br />

da Guiné não sabe nada, mas a gente gostava também de ser<br />

gente importante, está a compreender E a gente vai divertir<br />

nessas festas desses grupos. Ou um casamento, ou um baptizado,<br />

ou um grupo para divertir… Tudo é muito importante, porque na<br />

minha terra também é assim. Eu sou portuguesa já há trinta e tal<br />

anos, mas eu sempre tenho que chamar a naturalidade guine-<br />

Maria Abranches<br />

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