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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

masculino, parte do qual é possível ouvir na sala das mulheres,<br />

através de umas colunas de som. Durante esse tempo de espera,<br />

a noiva, de véu branco a tapar-lhe o rosto, e a madrinha de casamento<br />

sentam-se, em silêncio, no centro de um palco montado e<br />

decorado ao fundo da sala, de frente para as convidadas. Entre<br />

estas distinguem-se apenas cinco ou seis raparigas de origem<br />

portuguesa para além de mim, que mais tarde venho a saber<br />

serem colegas de faculdade da noiva. O recurso à henna, planta<br />

cuja aplicação nas mãos tem direito a um dia de festa entre as<br />

mulheres, antes do casamento, ocupa um papel importante no<br />

ritual 19 . As melhores amigas de Zayba não trazem, todavia, as<br />

mãos pintadas de henna, dizendo-me apenas que não apreciam<br />

fazê-lo, mas confirmando a sua importância nas mãos da noiva,<br />

para indicar a pureza, e nas convidadas que o desejarem,<br />

simbolizando, neste caso, apenas a participação no ritual.<br />

A entrada de quatro testemunhas do sexo masculino, vestidas de<br />

fato e gravata, que vêm recolher a assinatura da noiva, indica,<br />

segundo me vai contanto Latifah, que o ritual cumprido entre os<br />

homens está terminado, e abre passagem para a chegada de um<br />

grupo de mulheres, familiares do noivo, que entregam à noiva um<br />

véu vermelho, verde e dourado 20 que, substituindo o véu branco,<br />

cobre-lhe o rosto e os ombros. É este o momento que simboliza a<br />

concretização do casamento. Após a troca de presentes e de<br />

felicitações entre os familiares dos noivos, cria-se finalmente<br />

alguma agitação entre todas as presentes, seguindo-se a chegada<br />

do noivo e dos convidados do sexo masculino, todos trajados de<br />

fato e gravata. O noivo sobe, então, ao palco e, juntando-se à<br />

noiva, retira-lhe o véu e trocam as alianças.<br />

O jantar, arroz de caril com carne, segue-se na cantina da<br />

mesquita, onde se mantém a divisão do espaço entre os sexos,<br />

sobretudo entre os convidados mais velhos, sendo as raparigas<br />

mais novas que os servem. Os restantes jovens circulam livremente<br />

pelo espaço, não existindo, neste caso, uma restrição<br />

muito marcada. Já tarde, a festa termina com o cortar do bolo e,<br />

em seguida, com o “ritual da despedida”, momento que representa<br />

simbolicamente o “abandono” da família de origem da<br />

19. Embora já fosse utilizada no período histórico pré-islâmico, a henna surge como uma<br />

forma de honrar o profeta que fez dela uso pessoal, associando-a aos acontecimentos<br />

marcantes da existência e estando, por isso, presente em todos os ritos de passagem.<br />

Sendo as mulheres que detêm o conhecimento do segredo da preparação da henna,<br />

os homens não participam na preparação nem na utilização desta planta (Weibel, 2000).<br />

20. Este véu é geralmente bordado na Índia e designa-se por combi.<br />

Maria Abranches<br />

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