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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

O imigrante move-se sempre entre dois espaços, dois tempos, duas<br />

línguas, entre o definitivo e o transitório, entre o sentimento de fracasso<br />

e de êxito, assumindo contextualmente diferentes categorias e criando<br />

um jogo original entre elas (Rinaudo, 1999). Tal como acontece com todas<br />

as categorias identitárias, também as identidades étnicas são<br />

socialmente construídas e, por isso, encontram-se em permanente<br />

transformação. Os imigrantes, enquanto actores sociais, definem<br />

igualmente estratégias identitárias em diferentes contextos, mobilizando<br />

determinadas categorias étnicas para organizar as interacções e interpretar<br />

as diferentes situações. “Os emigrantes são, portanto, forçados a<br />

modificar profundamente as suas identidades em função desse novo<br />

padrão de relações. Têm que rever as suas categorias de pertença e de<br />

lealdade, redefinir a sua situação e adaptar-se a um campo simbólico que<br />

é novo. Mas também procuram defender e reafirmar os seus valores e<br />

preferências e os seus códigos de reconhecimento específicos (...)”<br />

(Fortunata Piselli in Tavares e outros, 1998: 116).<br />

Para além da identidade étnica, a reconstrução de significados e a<br />

recombinação de inúmeras dimensões é inegável em contexto de imigração,<br />

dada a movimentação dos imigrantes entre dois contextos<br />

culturais distintos, sendo os próprios percursos étnicos reconstruídos e<br />

cruzados de acordo com uma nova lógica de globalização de culturas e<br />

economias (Castells, 1997). A multiplicidade de identidades constitui,<br />

portanto, um fenómeno comum em contexto migratório, sendo a pertença<br />

étnica um dos elementos que influencia a constante construção e reconstrução<br />

dos percursos identitários. “(...) Se virmos a nossa identidade como<br />

sendo feita de pertenças múltiplas, algumas delas ligadas a uma história<br />

étnica e outras não, algumas ligadas a uma tradição religiosa e outras<br />

não; a partir do momento em que conseguirmos ver em cada um de nós,<br />

nas nossas próprias origens, na nossa trajectória, os confluentes<br />

diversos, as contribuições diversas, as mestiçagens diversas, as diversas<br />

influências subtis e contraditórias; a partir deste momento cria-se uma<br />

relação diferente com os outros, (...) deixa de haver simplesmente «nós»<br />

e «eles» (...)” (Maalouf, 1999: 42).<br />

A etnicidade é, portanto, aqui entendida como um conceito abrangente,<br />

incluindo não apenas as diferenças raciais – na medida em que sejam<br />

dotadas de significado social – mas também as culturais, tais como a<br />

religião ou os modos de vida, estas particularmente evidenciadas na<br />

população que constituiu objecto desta pesquisa. “Pode então definir-se<br />

a etnicidade como a relevância que, em certas condições, assume, nos<br />

planos social, cultural e político, a pertença a populações étnica ou<br />

racialmente diferenciadas. Essa pertença traduz-se e é veiculada por<br />

Maria Abranches<br />

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