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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

mulheres no espaço público e a maior facilidade com que rapazes e<br />

raparigas partilham o mesmo espaço (sobretudo em contexto escolar)<br />

alteram as formas de socialização tradicionais destes grupos e conduzem<br />

a uma negociação entre o Islão como experiência pessoal e tradição<br />

comunitária, pondo em evidência a flexibilidade religiosa. A europeização<br />

do Islão passa igualmente pela individualização, não existindo uma mas<br />

várias expressões islâmicas na Europa (Roy, 1999). No mesmo sentido em<br />

que este autor defende a conjugação de modos diferentes de adaptação<br />

do Islão ao Ocidente, Tiesler salienta as formas divergentes do quotidiano<br />

muçulmano actualmente presentes no continente europeu, sendo difícil<br />

falar do Islão na Europa, na medida em as expressões e tradições a ele<br />

associadas são extremamente diversificadas (Tiesler, 2000).<br />

Neste contexto, quando pensamos em determinadas componentes<br />

culturais, não podemos enquadrá-las a priori numa cultura muçulmana<br />

de origem. Dificilmente se pode falar de práticas musicais e alimentares<br />

muçulmanas em geral, ou mesmo de vestuário muçulmano, na medida<br />

em que cada uma destas dimensões se manifesta de diferentes formas<br />

de acordo com a origem étnica (social, cultural e territorial), podendo<br />

mesmo existir eixos culturais comuns entre indivíduos de origem<br />

muçulmana e de outras religiões. O caso da população guineense constitui<br />

um exemplo particularmente representativo dessa realidade, na<br />

medida em que, como veremos, apresenta uma forte influência das<br />

tradições animistas em algumas práticas culturais. Também entre a<br />

população de origem indiana é possível encontrar expressões culturais<br />

semelhantes entre hindus e muçulmanos, nomeadamente através do<br />

vestuário ou de práticas alimentares ou musicais. Por outro lado, práticas<br />

culturais ligadas à alimentação, música ou vestuário apresentam, de<br />

facto, diferentes expressões entre os indianos e os guineenses que, no<br />

entanto, têm um padrão religioso comum.<br />

Em suma, tal como, no capítulo 1, vimos que a imigração constitui um<br />

lugar privilegiado para a análise dos percursos identitários, no contexto<br />

específico da imigração muçulmana o processo de (re)construção das<br />

identidades pode complexificar-se. Os dois grupos de mulheres<br />

muçulmanas aqui em análise representam, tal como será demonstrado<br />

ao longo desta pesquisa, uma situação em que o processo de (re)construção<br />

identitária implica uma forte negociação entre estratégias<br />

individuais e colectivas, devido ao peso dos grupos de pertença e ao controlo<br />

familiar e social marcantes.<br />

Maria Abranches<br />

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