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O Homem de Areia - Lars Kepler

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Ele sorri para ela.<br />

— Você fala como se tivesse sido.<br />

— Não é bem assim. Quero dizer, eu podia ajudar — ela explica. — Ela só<br />

sentia dor à noite, e <strong>de</strong> madrugada.<br />

Saga pensa numa manhã <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma noite especialmente difícil, quando<br />

sua mãe fez café da manhã para ela. Fritou ovos, fez sanduíches e serviu dois<br />

copos <strong>de</strong> leite. Elas saíram <strong>de</strong> pijama. A grama no jardim estava molhada<br />

pelo orvalho, e elas levaram as almofadas das ca<strong>de</strong>iras da sala <strong>de</strong> jantar até a<br />

re<strong>de</strong>.<br />

— Você lhe dava co<strong>de</strong>ína — Jurek diz, com um tom <strong>de</strong> voz estranho.<br />

— Ajudava.<br />

— Mas aqueles comprimidos não eram muito fortes. Quantos ela teve <strong>de</strong><br />

tomar na última noite?<br />

— Muitos. Ela estava com uma dor terrível.<br />

Saga esfrega a mão na testa e percebe que está transpirando muito. Não<br />

quer falar sobre esse assunto. Faz anos que não pensa nisso.<br />

— Mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z, imagino? — Jurek pergunta com a voz tranquila.<br />

— Ela tomava dois toda noite, mas naquela precisou <strong>de</strong> muito mais. Eu os<br />

<strong>de</strong>rrubei no tapete, mas… não sei, <strong>de</strong>vo ter dado uns doze ou treze para ela.<br />

Saga sente os músculos do rosto ficarem tensos. Está com medo <strong>de</strong><br />

começar a chorar se ficar parada, por isso levanta e caminha rápido em<br />

direção ao quarto.<br />

— Sua mãe não morreu <strong>de</strong> câncer — Jurek diz.<br />

Ela para e se vira para ele.<br />

— Chega — ela diz.<br />

— Ela não tinha um tumor no cérebro — ele continua.<br />

— Eu estava com a minha mãe quando ela morreu. Você não sabe nada<br />

sobre ela. Não tem como…<br />

— As dores <strong>de</strong> cabeça — Jurek interrompe. — As dores <strong>de</strong> cabeça não<br />

melhoram na manhã seguinte se você tem um tumor.<br />

— Para ela melhoravam — ela diz com firmeza.<br />

— A dor é causada pela pressão no tecido cerebral e nos vasos sanguíneos<br />

à medida que o tumor cresce. A dor não passa. Só piora.<br />

Ela olha nos olhos <strong>de</strong> Jurek e sente um calafrio percorrer sua espinha.<br />

— Eu…<br />

Sua voz não passa <strong>de</strong> um sussurro. Ela sente vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> gritar, berrar, mas<br />

está sem forças.

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