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que dá o Dicionário Houaiss, que define l. materna como “LING A primeira língua<br />
aprendida por uma pessoa na infância, ger. a de sua mãe; língua nativa”. 18<br />
Constatamos, assim, no âmbito lexicográfico, evidências de uma mudança de<br />
definição da expressão língua materna que abandona o ponto de vista históricopolítico<br />
e incorpora contribuições da área da lingüística, no seu emprego atual. Tal<br />
mudança de perspectiva corrige uma situação capaz de produzir equívocos na<br />
comunicação, sobretudo quando está em jogo a questão da língua nacional.<br />
Um fato que ilustra bem tal confusão de sentido foi registrado durante o XII Encontro<br />
da FECAB, realizado em 2001. Alguns bilíngües alemão-português, brasileiros nascidos<br />
no Brasil, teriam sido repreendidos por terem dito que a sua “língua materna era<br />
o alemão”. Enquanto emissores da mensagem, estavam usando a expressão com o<br />
significado atual dado pelos Dicionários Houaiss e Aurélio (3. ed.). Os receptores da<br />
mensagem, porém, a decodificavam de acordo com o significado dado pelos dicionários<br />
mais antigos, ou seja como “língua do país natal”, que, na sua visão, deveria<br />
corresponder ao “português”, uma vez que estavam no Brasil e eram brasileiros.<br />
Problema 5: a língua da mãe?<br />
Uma das críticas mais correntes à expressão língua materna baseia-se na<br />
constatação de que nem sempre é a língua da mãe a que realmente passa para os<br />
filhos. Essa constatação comporta dois lados. O primeiro, de ordem sociocultural,<br />
é lembrado por Romaine (1994, p. 37-8), quando menciona a existência de comunidades,<br />
como a dos Vaupés na Colômbia e Brasil, onde a primeira língua é transmitida<br />
às crianças por meio do pai. Além disso, em casamentos exogâmicos, nos quais<br />
se unem marido e esposa de grupos lingüísticos diferentes, não seria exagero falar<br />
em língua materna e paterna, já que as crianças se tornam fluentes em ambas as<br />
línguas, sendo uma delas da parte não-materna, ou seja, do pai.<br />
Na verdade, verifica-se, a partir das pesquisas de aquisição da linguagem, que<br />
existe uma tendência de que as crianças adquiram a língua essencialmente de<br />
outras crianças, ou de seus pares de mesma idade. 19 Essa posição pode ser constatada<br />
no exemplo dado por Jespersen (apud Apeltauer 1997, p. 10), quando observa,<br />
em famílias dinamarquesas, que, embora muitas mães conservassem um forte<br />
sotaque norueguês, seus filhos falavam um dinamarquês com pronúncia igual à<br />
18. HOUAISS, Antônio & VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de<br />
Janeiro : Objetiva, 2001. 2922 p.<br />
19. Cf. Weinreich; Labov & Herzog (1971, p. 145).