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línguas e que pode ser ilustrado pelo seguinte diálogo entre um pesquisador e alunos<br />
de 1. a série, na comunidade bilíngüe alemão-português de Harmonia (RS): 34<br />
ENTREVISTADOR: (em tom de brincadeira) Vamos esclarecer as<br />
coisas. Vocês não gostariam de aprender alemão porque já sabem?...<br />
E português, vocês, então, não sabem? (Os alunos reagem enfaticamente,<br />
para dizer que sabem.)<br />
ALUNOS: (juntos) Sim!<br />
ALUNO: Eu sei!!!<br />
ALUNO: Eu sei!!!<br />
A interpretação dessa “tese” do senso comum, segundo a qual “não seria<br />
preciso o ensino da língua minoritária, na escola, por julgar-se já sabê-la” conduz-nos<br />
a algumas reflexões importantes sobre o desenvolvimento da língua<br />
materna em um meio bilíngüe:<br />
a) a referida tese não é invenção das crianças, falantes da língua minoritária; as crianças,<br />
na verdade, estão repetindo o que recebem direta ou indiretamente dos adultos; 35<br />
b) a tese em questão expressa a perspectiva do ensino formal. Mudando o tema<br />
para a questão da sobrevivência/manutenção da língua minoritária, ouve-se<br />
muitas vezes a posição contrária, qual seja de que “ninguém mais fala ou sabe<br />
a língua minoritária [no caso, alemão]”. Estaria, aqui, uma evidência inconsciente<br />
da tentativa de fugir das sanções impostas contra a língua minoritária e<br />
atender à norma (ou ideologia) do monolingüismo em português? Certamente,<br />
essa é uma hipótese altamente possível; 36<br />
c) a tese reflete a posição da língua estrangeira como conteúdo acessório, ou<br />
seja, como um a-mais optativo no currículo da escola, e não como parte<br />
essencial da formação;<br />
d) ao negarem enfaticamente a suposição do pesquisador de que talvez “não<br />
soubessem português”, as crianças estão expressando inconscientemente sua<br />
adequação ao mercado social, onde “saber” carrega um valor a ser perseguido,<br />
e “não saber” um estado a ser evitado, sob pena de ser considerado “inferior,<br />
limitado, sem escola, mais pobre ou, mesmo, inculto ou colono”.<br />
34. Exemplo retirado de Altenhofen (1990, p. 187).<br />
35. Veja-se Altenhofen (1990, p. 189).<br />
36. Pensando em termos do conceito de cultura como “compensação de deficiências (homo<br />
compensator)” (De Boer 1985), veja-se o depoimento de um informante, em Altenhofen<br />
(1990, p. 220): “Dann kommt’en Bresilioner... dann tut der Bresilioner, der fängt on,<br />
resmungejat mit’de Taitsche. Sie sollte Bresilionisch spreche, sie were doch in Brasilie”.<br />
Tradução: “Aí vem um brasileiro, ele começa resmungando com os alemães. E diz que eles<br />
deveriam falar português, afinal eles estão no Brasil”.