25.02.2013 Aufrufe

Untitled

Untitled

Untitled

MEHR ANZEIGEN
WENIGER ANZEIGEN

Erfolgreiche ePaper selbst erstellen

Machen Sie aus Ihren PDF Publikationen ein blätterbares Flipbook mit unserer einzigartigen Google optimierten e-Paper Software.

154<br />

línguas e que pode ser ilustrado pelo seguinte diálogo entre um pesquisador e alunos<br />

de 1. a série, na comunidade bilíngüe alemão-português de Harmonia (RS): 34<br />

ENTREVISTADOR: (em tom de brincadeira) Vamos esclarecer as<br />

coisas. Vocês não gostariam de aprender alemão porque já sabem?...<br />

E português, vocês, então, não sabem? (Os alunos reagem enfaticamente,<br />

para dizer que sabem.)<br />

ALUNOS: (juntos) Sim!<br />

ALUNO: Eu sei!!!<br />

ALUNO: Eu sei!!!<br />

A interpretação dessa “tese” do senso comum, segundo a qual “não seria<br />

preciso o ensino da língua minoritária, na escola, por julgar-se já sabê-la” conduz-nos<br />

a algumas reflexões importantes sobre o desenvolvimento da língua<br />

materna em um meio bilíngüe:<br />

a) a referida tese não é invenção das crianças, falantes da língua minoritária; as crianças,<br />

na verdade, estão repetindo o que recebem direta ou indiretamente dos adultos; 35<br />

b) a tese em questão expressa a perspectiva do ensino formal. Mudando o tema<br />

para a questão da sobrevivência/manutenção da língua minoritária, ouve-se<br />

muitas vezes a posição contrária, qual seja de que “ninguém mais fala ou sabe<br />

a língua minoritária [no caso, alemão]”. Estaria, aqui, uma evidência inconsciente<br />

da tentativa de fugir das sanções impostas contra a língua minoritária e<br />

atender à norma (ou ideologia) do monolingüismo em português? Certamente,<br />

essa é uma hipótese altamente possível; 36<br />

c) a tese reflete a posição da língua estrangeira como conteúdo acessório, ou<br />

seja, como um a-mais optativo no currículo da escola, e não como parte<br />

essencial da formação;<br />

d) ao negarem enfaticamente a suposição do pesquisador de que talvez “não<br />

soubessem português”, as crianças estão expressando inconscientemente sua<br />

adequação ao mercado social, onde “saber” carrega um valor a ser perseguido,<br />

e “não saber” um estado a ser evitado, sob pena de ser considerado “inferior,<br />

limitado, sem escola, mais pobre ou, mesmo, inculto ou colono”.<br />

34. Exemplo retirado de Altenhofen (1990, p. 187).<br />

35. Veja-se Altenhofen (1990, p. 189).<br />

36. Pensando em termos do conceito de cultura como “compensação de deficiências (homo<br />

compensator)” (De Boer 1985), veja-se o depoimento de um informante, em Altenhofen<br />

(1990, p. 220): “Dann kommt’en Bresilioner... dann tut der Bresilioner, der fängt on,<br />

resmungejat mit’de Taitsche. Sie sollte Bresilionisch spreche, sie were doch in Brasilie”.<br />

Tradução: “Aí vem um brasileiro, ele começa resmungando com os alemães. E diz que eles<br />

deveriam falar português, afinal eles estão no Brasil”.

Hurra! Ihre Datei wurde hochgeladen und ist bereit für die Veröffentlichung.

Erfolgreich gespeichert!

Leider ist etwas schief gelaufen!