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Problema 6: a primeira língua aprendida
Em decorrência do fato de a mãe propiciar o primeiro contato com a língua,
define-se, conforme já foi mencionado, a língua materna como “a primeira língua
aprendida”. Alguns autores, 25 em virtude de nem sempre ser a mãe a real
transmissora da “língua dita materna”, chegam a sugerir a designação primeira
língua (Erstsprache) como mais apropriada, em associação com segunda língua
(Zweitsprache), adquirida no contato direto no meio social, e língua estrangeira
(Fremdsprache), aprendida adicionalmente por meio do ensino formal.
O que se pode relacionar como criticável nessa visão de “língua materna” é que
nem sempre a primeira língua aprendida permanece viva e forte para o resto da
vida do falante. No que se refere a falantes bilíngües, observam os estudiosos que,
tão rápido e fácil como uma criança aprende qualquer língua, tão fácil também
pode vir a esquecê-la, se não vier a praticá-la com regularidade:
“Ein Kind erwirbt eine Zweitsprache ebenso schnell, wie es sie wieder
verliert. Sobald es bemerkt, dass es eine seiner Sprachen nicht mehr
braucht, wird es sie nicht mehr verwenden, und sie wird sich verlieren
bis zum vollständigen Verschwinden. Dies gilt vor allem, wenn das
Kind bemerkt, dass seine Eltern selbst zweisprachig sind und dass es
also keine Gründe mehr gibt, seine Sprache zu erhalten, wenn sie die
einzigen sind, die sie sprechen.” (Grosjean 1996, p. 171) 26
Dessa maneira, uma criança da colônia, 27 falante fluente de alemão, que se
muda para Porto Alegre ou outro meio monolíngüe em português e deixa de falar
a primeira língua, com muita probabilidade a esquece totalmente, a não ser que
continue a usá-la no dia-a-dia da família. Outro exemplo que vale a pena citar é
dado pelo descobridor da América, Cristóvão Colombo. Sua primeira língua teria
sido o dialeto genovês, a sua língua de origem, visto que procedia de Gênova.
Segundo Ilich (1982, p. 19/20, apud Apeltauer 1997, p. 10s.):
“Er lernte Geschäftsbriefe in Latein zu schreiben, (...) heiratete eine
Portugiesin und vergass wahrscheinlich das Italienische fast ganz. Er
sprach Portugiesisch, schrieb aber nie ein Wort in dieser Sprache.
25. Apeltauer (1997, p. 11).
26. Tradução: “Uma criança adquire uma segunda língua tão rapidamente como a perde de
novo. Tão logo ela percebe que não necessita mais de uma de suas línguas, a criança
deixará de usá-la, perdendo-se essa língua até sua completa extinção. Isso vale, sobretudo,
quando a criança percebe que seus pais são bilíngües e que, portanto, não há motivos para
manter sua língua, se eles são os únicos que a falam”.
27. Designação dada às áreas ocupadas pelos imigrantes europeus no sul do Brasil.