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Durante todo o tempo em que havia permanecido fora, a figura de
Aurélia não lhe tinha saído do pensamento. Alguma coisa lhe dizia
intimamente que ela ia passar por algum revés e ele queria evitá-lo.
Licínio se dava conta, ultimamente, de que algo estranho se passava
com ele. Encontrava maiores facilidades para intuir acontecimentos
antecipadamente - e alguns deles realmente se haviam realizado,
para seu grande espanto. Também uma leve sensação de que
mudanças aconteceriam em sua família, e isso incluía Fábio e a
mocinha por quem ele sabia que o irmão se havia apaixonado.
Ela era de descendência judaica, do lado da mãe, e, do pai, ele não
sabia. Uma bela jovem, culta, atraente e voltada inteiramente para as
tradições judaicas.
Sua mãe ainda não conhecia esta inclinação de Fábio e Licínio sabia
perfeitamente que Aurélia sonhava para ambos um casamento entre
patrícios. Por ela, Fábio se casaria com uma princesa romana
imperial, se dependesse só dela os seus jogos matrimoniais. E ele
não duvidava de que ela chegaria bem próxima desses propósitos, se
Fábio não fosse também um exímio jogador.
Quando Licínio chegou perto da mãe, logo notou que algo a
desagradava. Ela parecia reprimida, contrariada, a ponto de deixar
romper o dique de intolerância que sempre a acometia, quando se
via perto de atingir uma meta e esta lhe escorregasse pelos dedos.
Mas daquela vez a meta era mesmo Fábio. Ela havia recém
descoberto o interesse dele pela moça de olhos amendoados.
- Que aconteceu, minha mãe? Não está contente com a minha volta?
Preferia que eu estivesse bisbilhotando naquelas zonas fronteiriças,
vigiando os pobres judeus? - ele brincou, mas com amargura.
Aurélia olhou-o como se ele nem se encontrasse ali. Seus
pensamentos vagueavam, até que conseguiu se recompor.
- Deixe disso, meu filho. Conheço o seu valor no ofício que exerce.
Mas o Fábio...
- Que houve com ele? Algum sarilho que não me chegou aos
ouvidos? - perguntou preocupado.
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