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Dois
Quando as nuvens se adensaram e roubaram de seus olhos as
majestosas silhuetas de suas montanhas preferidas, Cornélia saiu de
seu repouso e voltou para dentro da moradia.
A casa estava sendo arejada e limpa. Os serviçais distribuíam-se tão
tranqüilamente nos afazeres, que Cornélia precisava buscar um
recanto onde se sentisse a própria dona do seu nariz. E isso só era
possível lá no porão, que possuía a mesma dimensão da residência,
embora fosse dividido para diferentes utilidades: celeiro de
alimentos, reservatório de sementes a serem plantadas, e uma
espécie de abrigo para as bugigangas que passavam a ser olhadas
como quinquilharias, à medida que os anos iam transcorrendo.
Ali era o reino de Cornélia. Havia tantos objetos expostos, que
serviam de motivo para ir criando em sua cabeça o resumo do que
sua família havia vivenciado.
A mãe de Cornélia tinha sido uma mulher de bela figura e
totalmente diferente dos moradores dali. Branca como os narcisos
que se elevavam nos grossos caules, mas cheia de uma melancolia
que ninguém conseguia dissipar. Por mais que a filha e o marido
Diomedes a quisessem enriquecer com seus sorrisos singelos, a
pálida mãe da menina -– que por isso até passou a ser chamada de
Branca – pouco conseguia de tempo para ingressar no reino de seus
familiares.
Ia entregando-se como aquelas plantinhas que crescem à beira dos
rios, apenas para enxergar-se nas águas que Deus dispõe para a
fertilidade do solo.
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