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Cornélia ergueu os ombros, respondendo: - Entendo o que me
aponta. Sei que existe uma infinidade de fatos sobre eles que
desconheço. Mas eu não estou me ofendendo por saber que não farei
parte dos festejos, nem das refeições conjuntas. Não se trata disto.
Apenas acho estranho que me permitam estar por perto, com a
condição de não participar dos rituais. É tudo muito vedado,
Nathanael.
- Não, não é vedado e nem proibido. Apenas preservado. Para eles
seria como se fossem discutir "mistérios" com alguém cujo ouvido
nem está preparado para o vocabulário deles, entende? Nem mesmo
a língua em que se comunicam você conhece. Ou melhor, sei que
conhece um pouco, mas não domina. Foi por isso que escolhi um
ancião, que é também Nathanael, para conversar com você. Você
poderá chamá-lo de Nathan. Foi o máximo que consegui, acredite.
Nos olhos de Cornélia não havia desencanto, mas uma certa tristeza
por descobrir que o sistema de castas, como o dos hindus, lá
também prevalecia.
- Quando será que a humanidade deixará de ser tão repartida assim,
meu amigo? - foi a única queixa emitida por Cornélia.
Nathanael olhou-a cordialmente e opinou:
- Quando cada um tiver cumprido os papéis que desejou escolher
para si. O povo essênio ainda está em meio a uma grande batalha,
diante desse fato calamitoso que foi a morte do Messias aguardado.
Nem todos tiveram possibilidade de "ler" o livro da vida de Joshua.
- O que quer dizer com isto?
- Que nem todos tiveram visão antecipada da morte dele. E nem
todos entenderam que isto aconteceria, com o "ouvir". O ver e o
ouvir foram prerrogativas de alguns.
- Ah, compreendo. Eu "ouvi" me falarem que Débora é que me
havia enviado o manuscrito, antes que você me confirmasse. Sim,
eu ouvi perfeitamente isto, sem ter visto ninguém perto de mim.
- É exatamente a isso que me refiro, Cornélia. Cada essênio adquiriu
por aqui aquilo que muitos tratam como "dons". Eram dons capazes
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