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para ela. Era algo como se uma peça dura fosse batida contra uma placa de bronze ou de cobre. Procurou ver do que se tratava, dirigindo-se para o terraço. Nada conseguindo, saiu em busca de Hermes. Passou para o primeiro pavimento da casa, que se prolongava até uma ampla entrada. Esta só poderia ser visualizada, da rua, se fosse aberta uma alta porta de madeira nobre, entalhada. Resolveu abrir a pesada porta, alcançando um espaço onde estavam sendo preparadas sementeiras para um futuro jardim. Mas dali já podia avistar uma faixa da rua estreita em ladeira, porque, mesmo pertencendo ao térreo de sua casa, era elevado o suficiente para não fazer parte da estreita viela em declive que ia dar numa grande praça. Esta praça era utilizada para quem quisesse fazer queixas de tudo o que lhe desagradasse. Nos tempos de hoje se poderia até dizer que era uma praça para tribuna de políticos. Cornélia conseguiu finalmente avistar uma fileira de “neófitos” de um Templo que pertencia a algum credo desconhecido por ela. Os homens levavam as cabeças raspadas e as mulheres, xales escuros, cobrindo cabeças e ombros. Mas caminhavam em fileiras separadas, como se homens e mulheres participassem da mesma seita, mas sem poder professar a fé lado a lado. Por isso, os homens iam na frente e as mulheres, atrás. O ruído ouvido por ela – como o das matracas – anunciava ao povo que, ali, ia uma procissão e que ninguém deveria atrapalhá-los, pois seguiriam pela estreita rua até um vale, desconhecido ainda de Cornélia. Alguns dos homens levavam faixas com pinturas brancas no rosto e na cabeça; estes carregavam uma estátua que veneravam. Aquela estátua produziu em Cornélia o mesmo efeito que a pérola lhe provocava. Seus olhos se fixaram nela, mas seu corpo amoleceu e ela tombou. Acordou com os olhos de Hermes a encará-la muito preocupado, aspergindo-lhe pulso e fronte com uma essência ambarina só dele conhecida. Ele a trancava a sete chaves e, quando a aplicava, 30
ninguém lhe exigia explicações, porque já sabiam que era algo que a todos beneficiava e Cornélia não o proibia de usá-la. Já refeita do grande desconforto que lhe tomara o corpo, ouviu dos lábios de Hermes: - Não quer me contar o que vem em sua cabeça agora? - Aquela procissão, Hermes. Eu um dia já acompanhei uma procissão assim. Eu sei, eu sei... - Fale dela então, Flor de Lótus. Cornélia olhou-o espantadíssima e indagou: - Por que disse Flor de Lótus? Ele riu e numa linguagem estranha recitou algo não entendido por ela. Depois, insistiu: - Vamos, Flor de Lótus, caminhe por esta morada. Cornélia olhou-o fascinada e começou a narrar para o negro a sua vida na Terceira Morada. 31
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Quarenta e Dois A noite já descia,
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