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Cornélia continuava a visualizar a sua existência. Vivia num
Templo, que era inexpugnável. Para cada uma delas existia uma
minúscula cela, que lhes servia de dormitório, quando queriam. Não
eram prisioneiras. Mais fácil caracterizá-las como ciganas, porque
muitas saíam daquele Templo para outros, considerados filiais. Mas
não eram ciganas e sim conhecidas como Vestais.
Não havia homens em suas vidas; eles eram cautelosos com elas,
porque elas pertenciam a um grupo reservado para servir deuses e
deusas. Mas, se um ou outro se decidisse procurá-las, ou mesmo
molestá-las, buscavam os horários em que elas serviam fora dos
Templos.
Cornélia reconhecia perfeitamente quais eram suas preferências:
gostava das saias muito longas, que até chegavam a embaraçar seus
passos, mas isso porque caminhava descalça. Mostrar os pés era
falta de consideração para quem as procurasse, a fim de lhes pedir
conselhos.
Um estranho ruído, como o do roçar de passos, fez com que
Cornélia saísse do mundo da memória e se sentisse de novo dentro
do Solarium. Dois minutos depois, foi alcançada por Hannah,
avisando-lhe que o pai a convidava a subir, porque havia visita na
casa.
Ela ajeitou uma mecha dos cabelos longos, colocou um xale sobre
os ombros e saiu em busca do pai.
O visitante era considerado habitante do pântano – assim é que
diziam os moradores da ilha, porque não conheciam o local que
tinha sido reservado para os recém chegados ao território. Mas não
se tratava de pântano e sim de terras que eram próximas de um rio
que, vez ou outra, transbordava e os deixava assustados. Até então,
nenhum deles se preocupara em mudar de lugar, porque amavam
muito aquelas terras.
Se elas possuíam os embaraços das cheias, nem por isso as terras
deixavam de ser férteis. E eles eram amantes das plantações. Suas
casas eram construídas em cima de estacas, de modo que somente
uma subida muito forte das águas conseguiria desabrigá-los.
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