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Nove
A permanência de Cornélia no Solarium ia acabar. Seu coração
pedia mudanças e ela não desejava continuar ali sem os seus
familiares. Nazaré também havia cerrado um véu para ela, de modo
que sua proposta era deixar aquela casa para Boanerges e seus
familiares, ou melhor, os judeus que haviam acolhido Boanerges,
quando ele ainda era um menino de dois anos.
Boanerges não sabia quem eram seus pais. Havia sido deixado na
porta da casa de Salomé e seu marido, um homem que trabalhava
com couro, e conhecido também como seleiro.
Para Cornélia, dinheiro não faltaria, mas encontrava-se ressequida
de afeto. Se não tivesse contado com a companhia daquele
rapazinho naqueles últimos anos, teria deixado de querer entender a
razão de sua existência.
Os familiares de Boanerges já estavam chegando e o plano dela era
sair dali exatamente com os que levassem Salomé e o marido até lá.
Seu destino todos desconheceriam. Assim ela preferia. Sentia uma
necessidade muito grande de isolar-se.
Quem cruzasse com Cornélia nesses últimos cinco anos após a
morte de Joshua, não entenderia como havia feito para vencer as
próprias tormentas. Estava mais magra, mas a expressão não era de
criatura vencida, e sim de quem buscava ansiosamente por uma
resposta.
Ela viajou, comprou uma casa modesta, mas confortável, e nela se
alojou. Não era perto de Nazaré. Vivia em paz, na companhia de
alguns serviçais. Afastada das atrações que ela caracterizava como
“carnais”, começou mais uma vez a analisar-se interiormente.
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