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Quinze
O crepúsculo surgiu junto ao pontilhar de diamantes do céu da
Galiléia.
No terraço de sua residência, Cornélia permitia que sua alma
transcendesse, que sua alma mergulhasse nos diamantes miudinhos
de suas lembranças, desde seus dias de menina até esse em que sua
alma transbordava em amor, mas cheia de solidão. Não tinha certeza
ainda de ter optado bem, quando se negara a acompanhar Hannah e
as amigas até a Roma longínqua.
O silêncio de que se via envolta, como que desejoso de agradá-la,
foi cortado pelo latido de cães. E, com o instinto próprio daqueles
que conhecem bem até os ruídos de suas cercanias, como uma
gatinha que fareja bem antes a chegada de pessoas queridas,
Cornélia desceu até o pátio fronteiriço de sua casa.
Apurou os ouvidos diante do enorme portão, para verificar se era ali
mesmo que havia parado um veículo e se ouvia, de fato, um
agradável murmurejar de criaturas que iriam procurá-la.
Zínia também havia descido até lá, com um grande xale colocado
nos ombros, para ocultar os trajes de dormir.
- Pressentiu o movimento, senhora? – perguntou, solícita, a serviçal,
e antecipando-se para abrir o pesado portão.
Diante delas, Boanerges carregava o garoto Josiel, ladeado da
esposa Rute e de Salomé. Josiel dormia o sono dos justos. Alguns
cachos negros repousavam na fronte quase tão rosada quanto as
bochechas do garotinho. A pele sedosa e macia de uma das faces
guardava sinais da mantilha que lhe havia servido como travesseiro,
quando Josiel ergueu a cabecinha e, meio sonolento, ofereceu os
braços para Cornélia.
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