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Fábio olhou <strong>para</strong> a mãe e não conseguiu evitar uma certa ironia, ao<br />
prosseguir:<br />
- Não penso como a senhora. Ser feliz é uma coisa, ig<strong>no</strong>rar o que<br />
está em tor<strong>no</strong> de nós é uma forma de deixar <strong>para</strong> lá o mundo que<br />
<strong>no</strong>s abriga.<br />
- E o que acha que posso fazer? - retrucou Aurélia com rispidez -<br />
Sair perguntando <strong>para</strong> os criadinhos e criadinhas o que eles andam<br />
vendo por aí? Você sabe que o meu mundo não é esse, Fábio. Meus<br />
amigos não fazem comentários a esse respeito.<br />
- Ah, fazem sim, senhora minha mãe - ele insistiu. - A senhora sabe<br />
muito bem que existem amigas suas entendendo perfeitamente o que<br />
sucede. Sua amiga Lélia, por exemplo. Desinteressou-se dela? A<br />
senhora e Lélia se conheceram desde a infância, não foi assim? Por<br />
que não a procurou mais?<br />
Aurélia franziu o cenho e indagou:<br />
- Posso saber qual o seu interesse em minhas amigas? O que há,<br />
Fábio? Qual é seu verdadeiro propósito em tudo isso?<br />
- Exatamente saber - por gente <strong>no</strong>ssa, conforme a senhora disse - o<br />
que são estes seguidores do Nazare<strong>no</strong>. Eu também, como a senhora,<br />
não pretendo tirar informações de <strong>no</strong>ssos escravos. Mas não quero<br />
continuar a ig<strong>no</strong>rar o que eles fazem. Pelo que soube, são gente<br />
digna e felizes, porque procuram levar felicidade aos meios me<strong>no</strong>s<br />
providos de posse. E eu não acho isto errado. A senhora acha?<br />
Aurélia não soube o que responder. Não era uma criatura indiferente<br />
ao sofrimento huma<strong>no</strong>. Apenas pautava a vida levianamente,<br />
preenchendo os espaços que lhe levavam solidão com o brilho das<br />
festas. Pela primeira vez, talvez, Aurélia tinha se surpreendido com<br />
a sinceridade daquele filho que não apalpava os seus comandantes e<br />
nem os seus comandados.<br />
"Fábio está amadurecendo", ela pensou, mas foi fugaz o seu<br />
interesse, ao entender que ele lhe dizia <strong>para</strong> olhar melhor os seus<br />
semelhantes e a vida ao redor. Assim, ela voltou a aconselhar:<br />
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