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colheita. Ela era toda incrustada em pedras coloridas brilhantes,
entremeadas de pérolas.
Embaraçada com a sensação estranha que a envolvia naquele
instante, voltou-se ao homem e indagou:
- Estátua de quem? É de alguma deusa?
Sorrindo misteriosamente, o árabe respondeu rápido:
- Sim, de uma deusa. E são tantas as lendas em torno dela, que eu
precisaria de mais tempo de que a senhora dispõe para ouvir.
- Mas eu vou gostar de saber tudo - disse com determinação e
também com uma certa dose de arrogância.
O árabe insistiu:
- Muito tempo, não me ouviu? O olhar dele traduzia tanto mistério e
a cadência da voz era tão firme, que ela retrucou:
- Pois, se é um desafio, aceito.
O homem tornou-se pensativo, tirou gentilmente a estátua de sua
mão e afirmou: - Não creio que seja uma criatura preparada para
tanto. E prosseguiu energicamente: - Tem levado seus desafios e
suas lutas para um lado que não a dignifica. Por que deveria se
envolver com esta história? Ela é para ser ouvida por pessoas de
fibra, sim, mas que não estejam interessadas apenas no próprio eu -
e olhou-a desafiadoramente.
Já ia revidar com desprezo, mas o olhar quase hipnótico daquele
homem lhe transmitia fraternidade e amor, sentimentos que ela sabia
que seu coração pouco abrigava.
Ele entendeu a luta enfrentada por aquela mulher altiva, para não se
entregar à cólera. Entrou na barraca, trazendo em mãos um líquido,
que lhe entregou para beber e acalmá-la.
- Percebeu? - ele disse mais tranqüilo. - Trata-se de um assunto que
pode feri-la profundamente ou redimi-la, tornando-a capaz de se
transformar em uma deusa - como esta - ele olhou para a estátua,
que naquele momento pareceu flutuar aos olhos de Cornélia.
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