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vendendo à custa do poder? Pensa que estão muito interessados na
felicidade do povo? Não vê de quantos recursos infelizes se
utilizam? E prosseguiu zangado: - Pão e circo, senhora Aurélia. É
isso que têm oferecido nos últimos tempos. Só espetáculos de
desperdício de dinheiro para encobrir os olhos do povo infeliz!
Aurélia deu um passo para trás.
- Então é isso, Licínio? Você também?
- Também o quê?
- Sabe muito bem do que estou falando, mas tenho a impressão de
que nossa linguagem mudou. Os cristãos agora são os donos da
arena?
Licínio riu, riu tanto, que se acalmou e conseguiu ser mais
ponderado ao dizer:
- Quisera eu que fossem eles os donos da arena, senhora Aurélia. Aí,
então, em lugar de carne humana destroçada em espetáculos
infamantes, nós ouviríamos hinos de louvor à vida humana. É isto o
que os cristãos pretendem louvar - a vida humana, minha mãe. Eles
não querem morrer, só querem se entregar a Deus. Eles não querem
sacrifícios, só paz e não poder. Querem fraternidade e união, a
senhora não compreende?
Aurélia chorou. Não de tristeza, nem de amargura. Chorou, porque
seus planos estavam sendo mudados, devagarinho, pela própria
vida. Chorou, porque se sentiu impotente para continuar a manobrar
os cordéis, e porque seus filhos ingratos não mais a entendiam.
O silêncio caiu sobre eles. Não um silêncio glacial, pois o coração
de Licínio se entristecia pela mãe. Ela o olhava como se ele fosse
um leão na arena.
Licínio tentou aproximar-se, acarinhá-la, mas em vão. Ela deixou-se
tocar, mas não estava perto dele. Mantinha-se bem distante, arredia
e ludibriada.
- Mãe - ele disse baixinho -, Roma está em decadência. Impera aqui
a grosseria. Nós não vamos conseguir mudança alguma, se não
mudarmos primeiro os nossos próprios passos, os nossos ideais. Não
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