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O que Licínio mais almejava para Aurélia era que ela visse que as
luzes da ribalta estavam próximas de se apagar e, na opinião dele, a
própria mãe deveria descobrir isso sozinha, desinteressando-se dos
festejos sociais de valor aparente.
Mas foi por intermédio de Fábio que Aurélia começou a notar que
algo não caminhava segundo o seu comando. Ele se chegou a ela,
um dia, interrogando-a:
- Mãe, o que sabe sobre os homens que caminham por aí fazendo
milagres?
- Ora, meu filho, o povo de Roma sempre foi cheio de superstições.
Provavelmente são histórias contadas pelos escravos que infestam
estes territórios. É gente vinda de locais onde as crenças não
condizem com as nossas. Os próprios judeus – alguns deles -
também acreditam que o filho de um carpinteiro que foi crucificado
era o filho de um Deus único. Não vejo motivo para me questionar
se devo abandonar os nossos deuses. Eu estou muito feliz com eles,
Fábio. Você não está?
- Eu não estou falando de deuses ou de um Deus único, minha mãe.
O que digo é que até os meus companheiros de armas viram gente
ser curada pelas mãos de alguns dos prosélitos dessa seita nova. E
isto me pareceu espantoso e...
- O que sucede com você, Fábio? Arrisca-se a ser taxado de louco,
se fizer esse tipo de comentário diante de seus companheiros.
- Pois a senhora está enganada. Alguns apenas sorriem
incredulamente diante do fato, mas uma boa parte já comenta que
parentes e amigos chegados foram curados até de doenças
consideradas malditas. É tudo bastante estranho, minha mãe. E nem
posso imaginar como foi que a senhora deixou de ouvir esses
comentários. Eles estão em toda parte.
- Ouvir eu já ouvi, Fábio, mas prefiro permanecer muda diante
disso. Por que vou ajudar a espalhar algo de que nem entendo? Até
acho que, se eu comentar, vou colocar mais lenha na fogueira. E
para quê? Nós não estamos felizes como estamos?
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