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Hannah possuía as mesmas predisposições para entender “o oculto”,
“o sobrenatural”, mas sentia-se tolhida pela responsabilidade que
julgava deveria estender para aquela moça de família feliz, à qual se
unira quando havia perdido, de uma vez, a família e o próprio
filhinho – que lhe tinha sido roubado do lado da cama em que
dormia.
Hannah jamais havia contado para Cornélia a série de infelicidades
domésticas de que tinha sido alvo, e exatamente quando possuía a
mesma idade que Cornélia alcançava agora. Era uma mulher de
alma sofrida, amadurecida, embora nem houvesse atingido uma
idade que a pudesse caracterizá-la como madura.
Mas ela o era, sim, na alma e nos bens singelos que guardava no
peito, e que se tratava de afeição verdadeira por algumas criaturas.
Havia sido apaixonada pelo homem que um dia lhe dera um filho e
que, na calada da noite, havia mandado que alguém o furtasse,
porque desejava apenas o filhinho, mas não a responsabilidade de
organizar uma família, ao lado de Hannah.
Os familiares desse rapaz, Dionísio, eram pobres mas honrados, e
jamais permitiriam que ele deixasse de assumir o “posto de pai”, se
viessem a saber que ele andara deixando um fruto seu, no ventre de
Hannah. E por saber isto muito bem, o que Dionísio fez? Pegou a
criancinha e alegou ao pai que ia viajar em busca de trabalho.
Mudou de local e de destino também. Nem o remorso o corroeu e
nem a lembrança de Hannah o comoveu.
Portanto, enquanto Hannah ia vivendo com a família de Cornélia,
Dionísio – o amor de Hannah – caminhava sozinho pelo mundo,
sentindo-se perseguido pela frieza do fado.
- O que quer de mim, Hannah? – disse Cornélia, depois que se
recompôs com a bela vista das montanhas dos Três Estribos. - É
algum recado de meu pai?
- Não é nada disso. Mas você anda tão distraída, que nem se
lembrou que amanhã é dia de sairmos com as embarcações para o
alto mar. Antigamente você era a primeira a escolher os enfeites
para seu pai. Agora, nem se recorda que um dia viajamos com o
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