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Vinte e Três
Numa noite de frio e de chuva, Cornélia foi procurada por um
homem chegado da Antióquia. Era um amigo de Boanerges, que lhe
levava notícias dele. Boanerges havia viajado urgentemente para lá,
visto que os pais de Rute haviam pedido a presença da filha.
A fisionomia desse homem, que se chamava Nathanael, não parecia
estranha a Cornélia. Os olhos cinzentos, a testa alta, os cabelos
castanho-avermelhados, o pomo-de-adão proeminente num pescoço
bastante alongado e os lábios finos em boca bem desenhada
constituíam características fortes de alguém que ela muito conhecia.
Mas quem?
Num arroubo espontâneo, de curiosidade e de afeição, indagou: - De
quem você é filho, Nathanael? Leva traços de alguém que sei que
conheço, só por isso não consigo deixar de lhe fazer tão deselegante
pergunta.
O homem, desembaraçado e até contente, respondeu:
- Não sei por que deveria estranhar o seu desejo de me conhecer
melhor. Nós estivemos juntos numa ocasião de triste ocorrência, lá
onde sucumbiu o nosso estimado Joshua.
Quem sabe a minha figura lembre mesmo a de meu pai, que logo
depois também partiu ao encontro daquele Anjo. Ele jamais se
conformou com aquela perda irreparável e com a fúria insensata de
homens incompreensíveis. Naquela ocasião, eu tinha uns quinze
anos, mas já era como agora. Sempre fui bastante alto e só por
pouco tempo pareci um molecote. Acho que aqueles eventos me
amadureceram rapidamente - ele concluiu com os olhos tristonhos.
- Diga-me, Nathanael, foi você quem me procurou por aqui, antes
que eu mudasse para Roma? Eu estava em Nazaré, quando recebi
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