Clique aqui para baixar o livro no formato

Um dia, recolhida no silêncio, entre odores suaves e sons
harmoniosos, ouviu de Omar:
- Amanhã você terá início a um longo aprendizado.
Foi despertada, no dia seguinte, pelo menino que a sacudia a repetir:
- Meu pai disse que é chegada a hora.
Viu-se, então, ao lado de Omar, caminhando em uma direção que
deixava entrever a distância algumas elevações cor de barro, com
morros que mais pareciam paisagens de fundo de mar. Só quando se
aproximavam, certificou-se que os "morros" na verdade eram
construções próximas umas das outras e que pareciam moldadas em
terracota. Uma delas, a maior, era a que constituía o Templo.
Erguia-se acima das outras e emprestava uma visão panorâmica
espantosa. A cada direção que se olhasse - dos quatro pontos
cardeais - a paisagem convidava a percorrê-la incansavelmente. Ao
norte, uma cadeia de montanhas íngremes, um desafio aos homens;
ao sul, um mar vibrante e majestoso, com casas pequeninas
colocadas não tão aproximadas dele, mas também não tão afastadas
a não permitir que os moradores se beneficiassem de uma aragem
perfeita; os outros dois lados se perdiam num embarafustado de
rochas e vegetações, salpicadas aqui e acolá por telhados de ardósia.
Uma paisagem sublime e aterradora ao mesmo tempo, porque
sugeria a Cornélia um mistério que teria de aprender a desvendar.
A visão daquela paisagem a tocava profundamente, quando foi
tirada das abstrações por Omar e levada por ele para perto de
algumas pessoas que se reuniam à porta do Templo. Eram homens e
mulheres, todos com vestes longas e na mesma cor azul, apesar dos
tons esmaecidos em algumas e avivados em outras.
Desde o princípio, pôde perceber que Omar era uma espécie de
orientador de grupo, respeitado, e alguns ali até se sentiam um
pouco intimidados em sua presença.
Depois daquela reunião, o árabe permaneceu em silêncio, mas seus
olhos a acompanhavam, como se quisesse compartilhar das
sensações que a alcançavam. Cornélia entendia que ele desejava
96