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Uma bancada de tábuas rústicas continha ferramentas, espátulas,
potes de tinturas extraídas de plantas, tecidos de linho, couros em
estampas gravadas e coloridas, pincéis de penas de aves e boa
quantidade de ornamentos em pedrarias.
Só naquele instante, Timóteo encabulou-se, porque havia penetrado
num local que pertencia exclusivamente ao dono da hospedaria, e
que certamente fazia parte de seus lazeres e de sua vida mais íntima.
Já ia sair, quando uma pequena arca toda trabalhada em filetes de
ouro o fascinou.
"Que riqueza de arte", pensou. "Será que Numério é um ladrão?"
Mas assim como a rapidez daquele pensamento maledicente o
atingiu, logo outro se interpôs: "Por que precisaria ser um? Por que
não pode ter sido presente de um mercador? Ou de alguma mulher?"
Aí sorriu brejeiro. "Sim, de uma dama e bem rica. Ele pode muito
bem ser admirado por uma, afinal de contas... nem sei se Numério é
casado.
Depois de uma série de indagações mentais sobre a vida daquele
homem, descobriu-se interessado em conhecê-lo melhor. Ele parecia
ter amizade com gente de posse. Timóteo não acreditava
absolutamente que um homem de aparência tão rude pudesse, ele
próprio, ter criado aquela obra magnífica.
Foi então que ouviu um fru-fru leve de tecido fino aproximar-se e,
em seguida, deparou-se com a mais bela visão que já tinha tido em
sua vida. A jovem esguia e bela, de aproximadamente dezessete
anos, trajava elegante e longa veste de tecido avermelhado, que
parecia esvoaçar a seu redor, nos movimentos delicados. O rosto era
fino e os cabelos com nuance semelhante ao do vestido. Parecia-lhe
estar diante de uma ninfa, como as que surgem das sombras da noite
e deixam suave perfume por onde transitam; depois se desfazem
como se desfazem sonhos e ilusões.
Mas ela não se desfez e o olhar era cheio de cordialidade. Só então,
aquela criatura quase etérea se comunicou com ele sem mover os
lábios rosados e bem delineados. Disse-lhe através do pensamento:
"Gostou de minha caixinha? Fui eu que a enfeitei para ele". A jovem
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