UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ... - FAE - Uemg
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Isso é o mesmo que dizer que<br />
Ninguém se forma no vazio. Formar-se supõe troca, experiência, interações<br />
sociais, aprendizagens, um sem fim de relações. Ter acesso ao modo como<br />
cada pessoa se forma é ter em conta a singularidade da sua história e<br />
sobretudo o modo singular como age, reage, e interage com os seus<br />
contextos. Um percurso de vida é assim um percurso de formação, no<br />
sentido em que é um processo de formação (MOITA, 2000, p. 115).<br />
Um fato em especial também me chamou a atenção: o medo da violência 23 no contexto<br />
escolar. A Escola está localizada numa região onde a violência e a baixa autoestima da<br />
comunidade vem crescendo de forma exorbitante, o que merece destaque, pois esse clima<br />
afeta as condições de trabalho.<br />
Nessa realidade escolar, foi possível perceber que Yuri preferia deixar passar despercebidas<br />
algumas situações que ocorrem na sala de aula, de forma a não prejudicar sua prática, por<br />
certo receio de criar conflitos com os alunos, tendo em vista o meio em que leciona. Um<br />
exemplo disso é o prazo para entrega de trabalhos. Observei que é no noturno, onde o índice<br />
de violência é maior, que o docente disponibilizava prazos maiores para que os alunos<br />
pudessem concluir as atividades avaliativas.<br />
No entanto, mesmo receoso da violência que ronda a escola, o professor tinha uma postura<br />
coerente com o PPP, posicionando-se de “maneira crítica, responsável e construtiva nas<br />
diferentes situações sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar<br />
decisões coletivas”. Uma situação vivenciada no período de observação pode dar uma noção<br />
dessa postura: um casal de namorados, alunos de sua classe, sai da sala e começa a se agredir<br />
verbalmente. O professor interrompe a aula e assume o lugar de mediador daquele conflito e<br />
busca estabelecer um diálogo e amenizar a situação.<br />
23<br />
Numa das aulas de Yuri, antes de darmos início às observações, o professor nos informou que numa<br />
sexta-feira, no horário noturno, uma gangue entrou na escola para localizar um de seus alunos.<br />
Procuraram-no na sala de aula, armados. O docente nos conta que neste dia sentiu medo e pensou em<br />
abandonar o cargo. Noutro episódio, quando eu ainda lecionava na instituição, no mesmo ano de 2010,<br />
alunos do turno da manhã choravam a morte de um dos seus colegas, na porta da escola, envolvido<br />
com o tráfico de drogas.<br />
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