UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ... - FAE - Uemg
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[...] um sistema flexível de disposição, não apenas resultado da sedimentação<br />
de uma vivência nas instituições sociais tradicionais, mas um sistema em<br />
construção, em constante mutação e, portanto, adaptável aos estímulos do<br />
mundo moderno: um habitus como trajetória, mediação do passado e do<br />
presente; habitus como história sendo feita; habitus como expressão de uma<br />
identidade social em construção (SETTON, 2002, p. 67).<br />
Portanto, cabe retomarmos aqui as ponderações de Bourdieu (1992, p. 108) de que o habitus é<br />
“o produto da história, um sistema de disposições em aberto, incessantemente confrontado<br />
com novas experiências e portanto mais incessantemente afetado por elas. È durável, mas não<br />
imutável”. Pondera-se que esse conceito, embora considerado fechado e imutável, apresenta<br />
formulações mais abertas no decorrer da obra de Bourdieu que indicam a mutabilidade dessa<br />
noção.<br />
Pensar a teoria do habitus como uma das possíveis explicações para a prática docente,<br />
depreende-se do fato de que, como Tardif (2002, p.181), entendemos que o “professor<br />
desenvolva certos habitus (isto é, certas disposições adquiridas na e pela prática real) que lhe<br />
darão a possibilidade de enfrentar os condicionamentos e os imponderáveis da profissão”. No<br />
entanto, devemos, de acordo com Wacquant (2007), atentar para as limitações do conceito:<br />
Primeiro, o habitus nunca é a réplica de uma única estrutura social, na<br />
medida em que é um conjunto dinâmico de disposições sobrepostas em<br />
camadas que grava, armazena e prolonga a influência dos diversos ambientes<br />
sucessivamente encontrados na vida de uma pessoa. Em segundo lugar, o<br />
habitus não é necessariamente coerente e unificado, mas revela graus<br />
variados de integração e tensão dependendo da compatibilidade e do caráter<br />
das situações sociais que o produziram ao longo do tempo: universos<br />
irregulares tendem a produzir sistemas de disposições divididos entre si, que<br />
geram linhas de ação irregulares e por vezes incoerentes. Terceiro, o<br />
conceito não está menos preparado para analisar a crise e a mudança do que<br />
está para analisar a coesão e a perpetuação. Tal acontece porque o habitus<br />
não está necessariamente de acordo com o mundo social em que evolui (p.<br />
68).<br />
Segundo Dubar (1997, p. 67-68), pode-se interpretar as “condições de produção” do habitus<br />
de duas formas. Primeiro, podemos concebê-lo como produto das “condições objetivas”, ou<br />
seja, como produto da trajetória social do indivíduo, configurada pelas situações sociais nas<br />
quais ocorreu sua infância, uma vez que o habitus seria a cultura do grupo de origem. Na<br />
segunda interpretação, o habitus não é essencialmente a cultura do grupo social de origem,<br />
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