UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ... - FAE - Uemg
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ... - FAE - Uemg
UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MINAS GERAIS ... - FAE - Uemg
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
mas a orientação da família, uma impregnação de atitudes subjetivas provenientes da<br />
linhagem familiar. Desse modo, o autor chama a atenção para a seguinte questão:<br />
Para estabelecer esta correspondência entre condições objetivas e<br />
disposições subjetivas, Bourdieu viu-se na necessidade de operar uma dupla<br />
redução que lhe permitisse especificar, simultaneamente, o mecanismo de<br />
interiorização das condições objetivas e o mecanismo de exteriorização das<br />
disposições subjetivas. É à custa desta dupla redução que o habitus poderá<br />
ser definido, simultaneamente, como produto das condições “objetivas”<br />
interiorizadas (a posição e a trajetória do grupo social de origem) e como<br />
produtor de práticas conduzindo a efeitos “objetivos” (a posição do grupo de<br />
pertença) que reproduzem a estrutura social, assegurando, desta forma, a<br />
continuidade do habitus individual (DUBAR, 1997, p. 74).<br />
Pensamos que as práticas desenvolvidas no ensino de Sociologia encontram-se atreladas a um<br />
habitus, entendido como o processo de incorporação de crenças, valores e percepção em<br />
relação à prática e ao modo de fazer docentes. Essa noção nos auxilia a pensar a relação e a<br />
mediação entre os condicionamentos sociais exteriores e a subjetividade dos professores.<br />
Conforme sinaliza Setton (2002), trata-se de<br />
[...] um conceito que, embora seja visto como um sistema engendrado no<br />
passado e orientando para uma ação no presente, ainda é um sistema em<br />
constante reformulação. Habitus não é destino. Habitus é uma noção que me<br />
auxilia a pensar as características de uma identidade social, de uma<br />
experiência biográfica, um sistema de orientação, ora consciente ora<br />
inconsciente. Habitus como uma matriz cultural que predispõe os indivíduos<br />
a fazerem suas escolhas (p. 61).<br />
Tal habitus vai se estruturando e se configurando nos percursos profissionais trilhados pelos<br />
docentes em suas trajetórias individuais e à medida que surgem obstáculos e desafios nas<br />
práticas em sala de aula, de forma a contribuir para a conservação ou transformação dessas<br />
práticas. O habitus, “surge então como um conceito capaz de conciliar a oposição aparente<br />
entre realidade exterior e as realidades individuais. Capaz de expressar o diálogo, a troca<br />
constante e recíproca entre o mundo objetivo e o mundo subjetivo das individualidades”<br />
(SETTON, 2002, p. 63).<br />
Assim sendo, conforme Bourdieu apud Charlot (1996, p. 48), “as práticas individuais trazem<br />
a marca da origem social à medida que são organizadas por um habitus que é ele próprio<br />
estruturado pelas condições sociais da existência”. Nessa perspectiva, o professor que hoje<br />
56