Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
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3.3. Intertextos: História, Ficção e <strong>Arte</strong><br />
Outra questão teórica, particularmente relevante para a análise de <strong>Girl</strong> <strong>with</strong> a<br />
<strong>Pearl</strong> <strong>Earring</strong>, é da metaficção historiográfica, termo cunhado por Linda<br />
Hutcheon <strong>em</strong> A Poetics of Postmodernism: History,Theory, Fiction, e retomado<br />
<strong>em</strong> The Politics of Postmodernism, livros nos quais a crítica canadense argumenta<br />
que história e ficção são construtores discursivos, representações narrativas,<br />
ambas com seus poderes e limitações. Para Hutcheon, “A história, como relato<br />
narrativo, é inevitavelmente figurativa, alegórica, fictícia; ela é smpre já<br />
textualizada, s<strong>em</strong>pre já interpretada” (Hutcheon: 1990, 143) outro importante<br />
conceito de Hutcheon é do papel exercido pelo personag<strong>em</strong> marginal ou<br />
marginalizado, silencioso e silenciado, m<strong>em</strong>bro de qualquer uma das diversas<br />
minorias, habitante das margens da cultura dominante, personag<strong>em</strong> ao qual ela dá<br />
o nome de “ex-centric”. Hutcheon mostra como a literatura pós-moderna t<strong>em</strong><br />
trazido para o centro narrativo esse personag<strong>em</strong> marginalizado, dando-lhe uma<br />
voz própria e um posição de sujeito de sua própria história (Ibid<strong>em</strong>, 60-62).<br />
Esses conceitos teóricos nos são extr<strong>em</strong>amente úteis no exame de <strong>Girl</strong> <strong>with</strong> a<br />
<strong>Pearl</strong> <strong>Earring</strong>. Nesse romance, Chevalier, usando tanto do seu conhecimento das<br />
obras e da vida de Vermeer como das fontes históricas sobre a Holanda do século<br />
XVII; utilizando uma sensibilidade refinada <strong>em</strong> relação ao mundo e à arte da<br />
pintura; e mostrando uma especial <strong>em</strong>patia com a busca da identidade e o<br />
desenvolvimento de uma subjetividade f<strong>em</strong>inina, produz uma obra maravilhosa e<br />
precisamente evocativa do passado mas, também e principalmente, de forte e<br />
poética atualidade.<br />
Em uma das dimensões ou estratos da fronteira entre o artifício e o real v<strong>em</strong> a<br />
distinção entre os artifícios. No nosso caso, a inescapável discussão entre a<br />
historiografia e a literatura <strong>em</strong> torno do que entre elas veio se construindo e<br />
constituindo o território de fronteira que compartilham de maneira, por vezes mais<br />
e por vezes menos, conflituosa, sob o aspecto de uma suposta pretensão à verdade.