Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
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Assim que o escritor começa a adaptar uma história tirada de outra fonte, surge a<br />
pergunta: até onde se pode e se deve ser fiel aquela fonte? Às vezes a mais fácil<br />
das adaptações faz o pior dos filmes, porque o material não se presta a uma<br />
história filmada e, na forma como está escrito, não funciona na tela, por mais forte<br />
que seja a história no original. Segundo Suso D’Amico: “A melhor maneira de um<br />
adaptador ser fiel a uma obra é ser-lhe totalmente infiel” (Ibid<strong>em</strong>, 332).<br />
O cineasta pode se contentar <strong>em</strong> inspirar-se na história literária segui-la passo a<br />
passo, sendo o filme apenas representação, ilustração de uma narrativa de<br />
linguag<strong>em</strong> a linguag<strong>em</strong>. Mas a fidelidade à obra original é rara, senão impossível.<br />
Em primeiro lugar, porque não se pode representar visualmente significados<br />
verbais, da mesma forma que é praticamente impossível exprimir com palavras o<br />
que está expresso <strong>em</strong> linhas, formas e cores.<br />
Em segundo lugar, porque a imag<strong>em</strong> conceitual, que a leitura faz nascer no<br />
espírito, é fundamentalmente diferente da imag<strong>em</strong> fílmica, baseada <strong>em</strong> um dado<br />
real que nos é oferecido imediatamente para se ver e não para se imaginar<br />
gradualmente. Segundo Jean Mirty:<br />
O t<strong>em</strong>po do romance é construído com palavras. No cin<strong>em</strong>a, ele é construído com<br />
fatos. O romance suscita um mundo, enquanto o filme nos coloca diante de um<br />
mundo que ele organiza de acordo com um certa continuidade. O romance é uma<br />
narrativa que se organiza, enquanto o filme é um mundo que se organiza <strong>em</strong><br />
narrativa (qtd in Betton: 1997, 116).<br />
A fidelidade de uma adaptação geralmente não coloca maiores probl<strong>em</strong>as quando<br />
se trata de descrever “do exterior”, como test<strong>em</strong>unhas objetivas que não <strong>em</strong>it<strong>em</strong><br />
qualquer ponto de vista subjetivo a respeito das personagens e dos eventos;<br />
quando a narração cin<strong>em</strong>atográfica se coloca sob forma de uma introdução a tudo<br />
que é abstrato, “interior”, ela coloca imediatamente graves probl<strong>em</strong>as: o filme não<br />
pode sugerir ou revelar t<strong>em</strong>peramentos senão por imagens e pela palavra.