Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Este trabalho também lhe proporcionou d<strong>em</strong>ostrar que existe muitas vezes uma<br />
relação entre a fotografia de cin<strong>em</strong>a atual e a pintura clássica, e defende: 55<br />
Ninguém diz que [a fotografia de] O Padrinho, de Francis Ford Coppola, t<strong>em</strong> a<br />
ver com R<strong>em</strong>brandt; mas se vestirmos as personagens com fatos do século XVII<br />
qualquer espectador reconhecerá o estilo de R<strong>em</strong>brandt. (...) Reciprocamente, nos<br />
filmes de Peter Greenaway, como se está vestido à época, diz-se imediatamente<br />
que há referências pictóricas, mas a técnica da luz é totalmente oposta à utilizada<br />
pelos mestres clássicos (Ibid<strong>em</strong>).<br />
Serra ficou muito satisfeito <strong>em</strong> poder utilizar <strong>em</strong> seu trabalho no filme <strong>Girl</strong> <strong>with</strong> a<br />
<strong>Pearl</strong> <strong>Earring</strong>, a tela <strong>em</strong> formato wildescren, pois possibilita uma composição de<br />
imag<strong>em</strong> mais ampla - molduras dentro de molduras – assim como takes que un<strong>em</strong><br />
a luz à sombra, que como salientou o próprio Serra:<br />
Por que é muito importante <strong>em</strong> relação ao conjunto da pintura flamenca, (...)<br />
justamente por causa da maneira como eram feitas as casas. È uma constante da<br />
pintura da época, há aquilo ao que nos chamamos, para simplificar, quadros<br />
dentro de quadros, porque normalmente, o quadro representa uma sala, com uma<br />
ação qualquer nesta sala, que é bastante frontal, aí há outra porta que dá para uma<br />
outra sala, onde existe mais ação. (..) (DVD: <strong>Girl</strong> <strong>with</strong> a <strong>Pearl</strong> <strong>Earring</strong>).<br />
Vermeer, ao usar a luz para criar drama, adiantou-se muito ao cin<strong>em</strong>atógrafo,<br />
introduziu efeitos de contra-luz, halos de claridade difusa e reflexos de cortes, que<br />
se antecipam a sua generalização no século XIX. Através da tela e do pincel, o<br />
pintor holandês, capturou um momento único, que atualmente a lente da câmara,<br />
também captou, transportando para a tela do cin<strong>em</strong>a, imortalizando da mesma<br />
forma que a pintura, a imag<strong>em</strong>.<br />
E. H. Gombrinch, <strong>em</strong> sua História da <strong>Arte</strong>, afirma:<br />
Como um fotógrafo que deliberadamente suaviza os contrastes de uma foto s<strong>em</strong><br />
por isso diluir as formas, Vermeer também suavizou os contornos e, não obstante,<br />
reteve o efeito de solidez e firmeza. É esta combinação estranha e ímpar de<br />
suavidade e precisão que torna tão inesquecíveis as suas melhores pinturas. Elas<br />
faz<strong>em</strong>-nos ver a serena beleza de uma cena simples com novos olhos e dão-nos<br />
55 João Mário Grilo t<strong>em</strong> uma opinião diferente de Eduardo Serra ao dizer que: “o cin<strong>em</strong>a não é<br />
cont<strong>em</strong>porâneo da pintura clássica, portanto, ao basear-se no modelo clássico, o cin<strong>em</strong>a tenta<br />
construir equivalências visuais, procurando reconstituir na imag<strong>em</strong>, o aspecto das pinturas quando<br />
ela são fotografadas” (Jornal das Letras, 16).