Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
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sentimento por seu criador. Na narrativa, assim como a história rejeitou essa<br />
personag<strong>em</strong> <strong>em</strong> sua inscrição, a vida social a teria rejeitado: objetos rejeitados<br />
pelo social também são objetos desejáveis à poética pós-moderna.<br />
Uma pintura, que é um documento histórico anterior ao romance <strong>em</strong> três séculos,<br />
t<strong>em</strong>, por meio da voz silenciosa da personag<strong>em</strong>-título, o desenvolvimento de uma<br />
narrativa que transcorre de modo absolutamente realista, assim como a narrativa<br />
desenvolvida pelo olhar neutro da câmera cin<strong>em</strong>atográfica. Mas uma diferença<br />
entre essas duas mídias traz mais um el<strong>em</strong>ento metalingüístico a ser notado no<br />
romance.<br />
No momento do qui-pro-quó, a esposa <strong>em</strong> crise, revoltada por ter sido enganada<br />
pela mãe e pelo marido, e enciumada, pergunta ao marido porque ele pinta a moça<br />
e não ela. Ele diz à esposa que ela não entende, e ela se revolta ainda mais, por<br />
isto implicar que a moça entenda e ela não. Para explicitar o absurdo que vê na<br />
resposta dele ela diz <strong>em</strong> relação à moça: “– she can’t read!”.. E, <strong>em</strong> um romance<br />
<strong>em</strong> primeira pessoa, pod<strong>em</strong>os dizer que seja uma provocação metaliterária ao<br />
realismo que o caracteriza.<br />
Novamente, na interface entre obra e referencialidade, aí está uma disjunção que o<br />
texto de Chevalier desafia. Estamos diante de uma forma narrativa escrita do<br />
test<strong>em</strong>unho <strong>em</strong> primeira pessoa. Mas, de uma personag<strong>em</strong> analfabeta do século<br />
século XVII, e construído por uma escritora americana do século XXI. Embora,<br />
como diss<strong>em</strong>os, a escritora não dissimule sua identidade, o gênero do romance se<br />
inscreve no cânone do test<strong>em</strong>unho, o que propicia à intertextualidade com as<br />
questões literárias que se estabelec<strong>em</strong> <strong>em</strong> torno dele, e com o que o debate<br />
cont<strong>em</strong>porâneo lhe oferece.<br />
É exatamente na probl<strong>em</strong>atização constituída entre objeto histórico, vestigial –<br />
que afirma que um passado extratextual realmente existiu – somado a uma