Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Uma das diferenças, e a mais evidente, é que na linguag<strong>em</strong> audiovisual toda a<br />
informação deve ser visível ou audível. É muito fácil escrever algo como: José<br />
acorda e l<strong>em</strong>bra de Ana, mas é muito difícil de filmar. Palavras como pensa,<br />
l<strong>em</strong>bra, esquece, quer ou percebe, presentes <strong>em</strong> qualquer romance, são proibidas<br />
para o roteirista, que só pode escrever o que é visível. A literatura, que a todo<br />
momento nos r<strong>em</strong>ete ao fluxo de consciência dos personagens, pode utilizar todas<br />
essas palvras. Mas não necessariamente precisa utilizar todas essas palavras, o que<br />
faz com que alguns textos sejam mais facilmente adaptáveis do que outros.<br />
A segunda diferença fundamental, e que também diz respeito à natureza dessa<br />
linguagens, pode ser analisada a partir de uma frase de Umberto Eco: “toda<br />
narrativa se apóia parasiticamente no conhecimento prévio que o leitor t<strong>em</strong> da<br />
realidade” (Eco: 1994, 91). Já os cineastas – e os roteiristas – precisam fazer<br />
grande parte do trabalho do leitor. Lendo, cada leitor cria suas próprias imagens,<br />
s<strong>em</strong> custos de produção e limites de realidade, o cineasta precisa tomar essas<br />
decisões. É natural que o leitor se decepcione quando veja as imagens criadas pelo<br />
cineasta, já que, muitas vezes, a ord<strong>em</strong> <strong>em</strong> que as informações são liberadas na<br />
ação fílmica e na literatura, são inteiramente diferentes.<br />
O terceiro aspecto técnico a ser considerado é que o cin<strong>em</strong>a como a música, é uma<br />
forma de expressão <strong>em</strong> que o t<strong>em</strong>po de apreensão das informações é definido pelo<br />
autor. Cada um de nós estabelece o seu próprio ritmo de leitura. Mas um filme de<br />
129 minutos é visto por qualquer espectador <strong>em</strong> 129 minutos.<br />
Além destas três, poderíamos l<strong>em</strong>brar ainda de muitas outras diferenças. O<br />
cin<strong>em</strong>a, ao contrário da literatura, é um evento, um ritual para o qual nos<br />
vestimos, saímos de casa e pagamos ingresso, um ritual compartilhado com outros<br />
espectadores. O cin<strong>em</strong>a é um trabalho coletivo, ao contrário do texto, quase<br />
s<strong>em</strong>pre expressão de um indivíduo. A linguag<strong>em</strong> cin<strong>em</strong>atográfica, <strong>em</strong> oposição ao<br />
texto, é intuitiva, ninguém precisa ser alfabetizado para entender um filme. Mas é