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Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...

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seriam, então, não os acontecimentos do passado, mas “as aplicações explicativas<br />

ou narrativas que a historiografia dá” a esses acontecimentos, e o objeto histórico,<br />

o “documento”, a “relíquia” seriam os objetos concretos que perduram no t<strong>em</strong>po e<br />

constitu<strong>em</strong> vestígios dos acontecimentos concretos do passado r<strong>em</strong>oto ou recente<br />

(Ibid<strong>em</strong>).<br />

Como explicita Hutcheon quanto à constituição de um objeto, quer sob o regime<br />

do discurso historiográfico, quer sob o regime do discurso ficcional: a<br />

historiografia e a ficção constitu<strong>em</strong> seus objetos de atenção; <strong>em</strong> outras palavras,<br />

elas decid<strong>em</strong> quais os acontecimentos que se transformarão <strong>em</strong> fatos. A<br />

probl<strong>em</strong>atização pós-moderna se volta para nossas inevitáveis dificuldades <strong>em</strong><br />

relação à natureza concreta dos acontecimentos (161).<br />

E é justamente a lacuna historiográfica deixada pela documentação estabelecida<br />

como factual nas textualizações que compõ<strong>em</strong> a fortuna iconográfica da obra do<br />

pintor holandês do século XVII que a escritora da ficção cont<strong>em</strong>porânea elege<br />

para constituir seu objeto ficcional. Ou melhor, para iluminar, <strong>em</strong> meio a todo o<br />

ambiente que acompanha a descrição historiográfica, aquilo que estaria fora de<br />

lugar. Assim como a pérola não tinha lugar no conjunto da indumentária da<br />

personag<strong>em</strong> pictórica, Chevalier nos oferece uma invenção histórico-literária <strong>em</strong><br />

que a pérola é solicitada pela materialidade pictórica, fazendo-nos ver a interação<br />

mútua entre cotidiano e criação artística, ocupando a ação com um modo de viver<br />

que estetiza o cotidiano, e assim aponta para a sua construção de uma moça que,<br />

<strong>em</strong> uma leitura metamidiática, pod<strong>em</strong>os notar que também não t<strong>em</strong> lugar naquela<br />

sociedade, assim como a pérola não t<strong>em</strong> lugar na sua orelha, senão pela<br />

intervenção da arte.<br />

Ambos são rastros de um desengate entre o discurso construído pela<br />

historiografia e o discurso construído pela arte que trava s<strong>em</strong>pre alguma forma<br />

de diálogo com a história, seja cont<strong>em</strong>porânea, seja de uma época distinta à sua.

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