Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
A ekphrasis não t<strong>em</strong> porque referir-se a um objeto artístico real. 22 O escudo de<br />
Aquiles e os tapetes das ninfas de Tajo não são objetos reais, mas sim inventados<br />
pela fantasia de Homero e de Garcilaso. É importante entender a palavra fantasía<br />
<strong>em</strong> seu sentido etimológico grego – visio <strong>em</strong> latim , como se viu na citação de<br />
Quintiliano.<br />
Existe também, na opinião de alguns autores, um tipo especial de ekphrasis, na<br />
qual o descrito não é uma obra de arte, mas sim uma cena natural, real ou não,<br />
geralmente uma paisag<strong>em</strong>, que se apresenta como se de uma pintura se<br />
tratasse. 23 Sobretudo no caso destas ekphrasis paisagísticas, mas não unicamente<br />
nelas, é freqüente que o texto incluí como parte do t<strong>em</strong>a o quadro da tela descrita.<br />
A tela, ao isolar a imag<strong>em</strong>, serve para destacar o que existe dentro dela. A<br />
realidade não a v<strong>em</strong>os assinalada, a arte sim. Segundo Susan Steward, a tela<br />
assinala o cont<strong>em</strong>plado como arte e centra o enfoque do que cont<strong>em</strong>pla, pois a<br />
tela dirige a nossa atenção não somente ao conteúdo, mas sim à organização desse<br />
conteúdo e as suas relações com o que o rodeia.<br />
Quando o objeto artístico descrito é real, se produz uma dupla intertextualidade: a<br />
que une todo texto escrito com outros, e a do texto escrito com o seu referente<br />
visual. Isto requer, por sua vez, um duplo esforço por parte do leitor, que para a<br />
compreensão plena do texto, deverá saber decifrar ambos.<br />
Não só se deve chamar a atenção sobre o papel do receptor na dupla<br />
descodificação da intertextualidade ecfrástica, como também o efeito que a obra<br />
provoca no receptor é outro dos signos de identidade da ekphrasis. Neste a<br />
22 A crítica se mostra unânime neste ponto, que não deixa de assinalar expressamente. Ver por<br />
ex<strong>em</strong>plo a definição de Robillard e Jongeneel, onde explica a ekphrasis como a maneira <strong>em</strong> que as<br />
obras literárias evocam obras de arte existentes ou imaginadas ( Robillard and Jongeneel: 1998,<br />
IX).<br />
23 Ver a introdução de Mario Klarer ao número especial de Word & Image dedicado a ekphrasis<br />
(Janeiro-Março 1999, 03) e o artigo de Ernst-Peter Schneck no mesmo número, sobre as<br />
descrições de paisag<strong>em</strong> na literatura norte-americana do século XIX.