Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
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O cin<strong>em</strong>a, a seu turno, revelou a limitação do olho humano e desvendou segredos<br />
de que n<strong>em</strong> ao menos suspeitávamos, na opinião de Leyla Moíses Perrone, <strong>em</strong> seu<br />
O Novo Romance Francês:<br />
O olhar frio da câmara veio revelar-nos um mundo novo, que nossos olhos <strong>em</strong><br />
geral não enxergavam, habituados que estavam a ver cada objeto segundo a<br />
utilidade e o sentido que tomava <strong>em</strong> cada momento da vida. O cin<strong>em</strong>a veio<br />
chamar a nossa atenção para a superfície dos objetos: até mesmo os mais<br />
familiares, pela magia do close up e do enquadramento, revelam-se<br />
repentinamente desconhecidos, impenetráveis, novos (qtd in Mello, 22).<br />
Por sua capacidade de apresentar a imag<strong>em</strong> <strong>em</strong> movimento, obedecendo,<br />
inclusive, às linhas de perspectiva que a pintura renascentista nos habituou a<br />
considerar como forma natural de percepção dos objetos — o cin<strong>em</strong>a, como<br />
nenhuma outra forma de expressão — alcançou o efeito da impressão de<br />
realidade, fazendo com que as imagens projetadas na tela se ass<strong>em</strong>elhass<strong>em</strong> de<br />
forma quase perfeita ao espetáculo oferecido aos nossos sentidos pelo mundo real.<br />
A verossimilhança que o romance realista tanto perseguiu e esforçou-se por<br />
sugerir através de palavras e recursos artificiosos, como a ocultação do narrador, o<br />
cin<strong>em</strong>a agora expunha ao espectador <strong>em</strong> imagens convincentes. Para Robert Stam,<br />
A arte cin<strong>em</strong>atográfica tornou-se o catalisador das aspirações miméticas<br />
abandonadas pelas d<strong>em</strong>ais artes. A popularidade inicial do cin<strong>em</strong>a deveu-se à sua<br />
impressão de realidade, a sua fonte de poder, e simultaneamente, a seu defeito<br />
congênito. (...) O cin<strong>em</strong>a herdava o ilusionismo abandonado pela pintura<br />
impressionista, combatido por Jarry e o simbolistas no teatro e minado por<br />
Proust, Joyce e Woolf no romance (Stam: 1981, 24).<br />
Optando pela modalidade narrativa, o cin<strong>em</strong>a roubou da literatura parte<br />
significativa da tarefa de contar histórias, tornando-se, de início, um fiel substituto<br />
do folhetim romântico. E, apesar de experimentações mais ousadas, como a<br />
"Avant-Garde" francesa dos anos 20, ou o surrealismo cin<strong>em</strong>atográfico, que<br />
buscaram fugir dessa linha, a narratividade continua a ser o traço heg<strong>em</strong>ônico da<br />
cin<strong>em</strong>atografia.