Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Tudo isto permitiu, <strong>em</strong> fim, que o cin<strong>em</strong>a se convertesse <strong>em</strong> uma máquina de<br />
contar histórias cada vez maiores e complexas. Paralelamente, como já foi dito, a<br />
grande narrativa do século XX abandonará essa função, para deixar-se contaminar<br />
por outros gêneros e introduzir novos el<strong>em</strong>entos dentro do romance.<br />
No ensaio Dickens, Griffith e Nós, Eisenstein, <strong>em</strong> estudo minucioso, procura<br />
d<strong>em</strong>onstrar quanto a estética nascente do cin<strong>em</strong>a americano ficou a dever ao<br />
escritor inglês, cujos romances foram tomados por Griffith como forte referencial<br />
para a elaboração de seus filmes. Para o cineasta russo,<br />
Dickens pode ter dado, e deu realmente, à cin<strong>em</strong>atografia muito mais do que a<br />
idéia da montag<strong>em</strong> da ação paralela (...). Os personagens de Dickens são<br />
elaborados com meios tão plásticos e lev<strong>em</strong>ente exagerados como o são na tela os<br />
heróis de hoje (Eisenstein: 1990, 180-181).<br />
De início fort<strong>em</strong>ente atrelada à literatura e a outras formas de expressão<br />
consagradas, a linguag<strong>em</strong> cin<strong>em</strong>atográfica, ao longo deste século, conquistou<br />
autonomia e especificidade a ponto de se tornar, <strong>em</strong> nossos dias, um expressivo<br />
referencial no comércio s<strong>em</strong>iótico que v<strong>em</strong> se intensificando entre as artes. Dele<br />
se aproximou com resultados surpreendentes a própria narrativa romanesca que, a<br />
partir do século XVIII, t<strong>em</strong>-se mostrada aberta a contínuas transformações<br />
t<strong>em</strong>áticas e estilísticas.<br />
O folhetim romântico, expressão fiel do imaginário maniqueísta burguês — a<br />
partir de enredos fantasiosos, que ao final puniam os maus e pr<strong>em</strong>iavam o herói e<br />
a mocinha b<strong>em</strong> comportada com um casamento eternamente feliz — cativou um<br />
público leitor suficient<strong>em</strong>ente expressivo para promover a cristalização do gênero.<br />
A saturação dessa fórmula, entretanto, cederá lugar, no final do século XIX, ao<br />
romance realista, que substitui a figura do herói romântico pela do hom<strong>em</strong><br />
comum, sujeito aos <strong>em</strong>bates da sociedade <strong>em</strong> que se encontra inserido.<br />
Essencialmente mimética, a narrativa realista volta-se para a retratação<br />
psicológica dos personagens e a análise do contexto social que os abriga,