Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
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de cin<strong>em</strong>a. Reciprocamente, esta arte misteriosa muito assimilou da literatura"<br />
(Epstein: 1991, 269). Conforme sugere o crítico, a relação entre a literatura e o<br />
cin<strong>em</strong>a é, de fato, uma via de mão dupla ou, tomando-se de <strong>em</strong>préstimo uma<br />
expressão feliz de Italo Calvino, <strong>em</strong> Seis Propostas para o Prôximo Milênio, “é<br />
um pouco assim como o probl<strong>em</strong>a do ovo ou da galinha" (Calvino: 1993, 102).<br />
Enquanto a literatura se apóia na expressão verbal, a imag<strong>em</strong> visual constitui a<br />
matéria básica do cin<strong>em</strong>a, mas esses são domínios que muitas vezes se imbricam a<br />
tal ponto, que se torna difícil estabelecer-lhes as fronteiras.<br />
A imag<strong>em</strong>, o movimento e o som são habitualmente considerados materiais<br />
inerentes ao cin<strong>em</strong>a. Todavia, não se pode negar que, mesmo antes do surgimento<br />
dos meios tecnológicos que possibilitaram a existência do filme, tais el<strong>em</strong>entos já<br />
integravam o fenômeno literário, graças à capacidade da linguag<strong>em</strong> <strong>em</strong> descrever<br />
e sugerir aspectos que tocam a sensibilidade e acionam os mecanismos de nossa<br />
imaginação. Conforme nos alerta o escritor italiano,<br />
No cin<strong>em</strong>a, a imag<strong>em</strong> que v<strong>em</strong>os na tela também passou por um texto escrito, foi<br />
primeiro ‘vista’ mentalmente por um diretor, <strong>em</strong> seguida reconstruída <strong>em</strong> sua<br />
corporeidade num set para ser finalmente fixada <strong>em</strong> fotogramas de um filme<br />
(Ibid<strong>em</strong>, 99).<br />
Entre a literatura e o cin<strong>em</strong>a, há um parentesco originário, diálogo que se<br />
acentuou sobr<strong>em</strong>aneira após a intermediação dos processos tecnológicos, mas que<br />
a estes precedeu:<br />
Todo filme é, pois, o resultado de uma sucessão de etapas, imateriais e materiais,<br />
nas quais as imagens tomam forma; nesse processo, o ‘cin<strong>em</strong>a mental’ da<br />
imaginação des<strong>em</strong>penha um papel tão importante quanto o das fases de realização<br />
efetiva das seqüências, de que a câmera permitirá o registro e a moviola a<br />
montag<strong>em</strong>. Esse cin<strong>em</strong>a mental funciona continuamente <strong>em</strong> nós — e s<strong>em</strong>pre<br />
funcionou, mesmo antes da invenção do cin<strong>em</strong>a — e não cessa nunca de projetar<br />
imagens <strong>em</strong> nossa tela interior (Ibid<strong>em</strong>).<br />
Na realidade, enquanto a literatura possibilita a projeção da imag<strong>em</strong>, do<br />
movimento e do som na mente do leitor, os meios tecnológicos facultam sua plena