Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
pedir a Whistler que explicasse a história da figura escura <strong>em</strong> baixo da luz do<br />
farol de seu quadro Harmony in Grey and Gold, sobre o qual dizia que não<br />
importava o passado, presente ou futuro da figura negra, pois ali foi colocada<br />
porque o lugar, na composição, exigia o negro.<br />
Do mesmo modo que Whistler outorgava prioridade ao aspecto formal de sua<br />
pintura <strong>em</strong> sobreposição do conteúdo, Rossetti estava interessado <strong>em</strong> criar um<br />
efeito visual no po<strong>em</strong>a – através do efeito claro-escuro entre negro e dourado -,<br />
ainda que fosse <strong>em</strong> detrimento da exatidão da transposição. Em ambos os casos, a<br />
opacidade referencial está <strong>em</strong> função do efeito que ambos artistas queriam<br />
provocar no leitor-observador.<br />
O desinteresse dos homens das letras por oferecer imagens idênticas às reais<br />
dominou a escrita ekphrastic do século XIX <strong>em</strong> diante, levados pela influência<br />
dos pré-rafaelitas, que recusavam a arte realista, por consider<strong>em</strong> que a fidelidade à<br />
realidade não os conduzia ao seu entendimento. Depois de ler um soneto que<br />
Rossetti havia escrito a partir de um quadro, Whistler chegou mesmo a indagá-lo<br />
do porque se dar ao trabalho de pintar o quadro, quando poderiam, simplesmente,<br />
<strong>em</strong>oldurar o soneto.<br />
A razão pela qual é impossível que um soneto substitua um quadro é óbvia, a<br />
diferente materialidade do suporte e dos signos: palavras sobre papel; linhas, cores<br />
e pontos sobre uma tela. Mas, além desta constatação, o que revela o comentário<br />
de Whistler é que a transposição – como tradução – s<strong>em</strong>pre comporta uma ameaça<br />
de traição ao original.<br />
Afirma Claus Clüver que “tanto en la traducción interlingüística como en la<br />
inters<strong>em</strong>iótica, (...) el significado que se adscribe al texto original, ya sea un<br />
po<strong>em</strong>a o una pintura, es el resultado de una interpretación” (Clüver: 2000, 95).<br />
Seria a carência de uma “s<strong>em</strong>iótica de las artes” a que obrigaria a se recorrer a