Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
Diálogos Transdisciplinares em Girl with a Pearl Earring: a Arte ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
gênero, o histórico, e se justificava. Ao contrário, seu correlato moderno, pós-<br />
romântico, a estética da “consolación por las artes” (Baudelaire, 258),<br />
concentrava-se nos experimentos dos poetas, nessas tramas evocatórias do espaço<br />
pictórico, na intensidade com que as imagens se dão – <strong>em</strong> um só instante – na<br />
vista. “As artes, menos distantes que nunca – assinala Théophile Gautier (1811-<br />
1872) -, eqüival<strong>em</strong>-se umas com outras e entregam-se a freqüentes transposições”<br />
(Ibid<strong>em</strong>, 17-27). Gautier criou as suas “con la obstinación de un pintor”<br />
(Baudelaire 2005: 245).<br />
Mas L’Art, Les Néréides ou Symphonie en Blanc Majeur não eram po<strong>em</strong>as <strong>em</strong><br />
prosa, mas sim po<strong>em</strong>as métricos que surgiram <strong>em</strong> meio de uma tradição de escrita<br />
ecfrástica já estabelecida, cuja orig<strong>em</strong> estava na descrição do escudo de Aquiles<br />
que fez Homero (Ilíada XVIII, 478-608). Neste caso, segundo Avelar:<br />
Estamos perante um fresco (uma narrativa) que só existe no discurso (o escudo<br />
não existe além do texto, só aí se realiza, pelo que a ekphrasis é, obviamente,<br />
imaginária; daí que a crítica anglo-saxónica a ela se refira como “notional<br />
ekphrasis”), e que simultaneamente funciona como sinopse cultural e social, num<br />
sentido lato, da vida de uma época (Avelar, 2006, 47).<br />
Os românticos, como sucede, por ex<strong>em</strong>plo, no po<strong>em</strong>a de P. B. Shelley, On the<br />
Meduse of Leonardo da Vinci (1819), já haviam praticado este tipo de<br />
representação. Este po<strong>em</strong>a dialoga com o quadro atribuído a da Vinci, de mesmo<br />
nome, como se refere Avelar: “Shelley contesta o estatuto daquelas artes que<br />
muitos outros consideravam perenes, a escultura, a arquitectura, a pintura, enfim,<br />
as artes visuais” (Ibid<strong>em</strong>, 102).<br />
O gênero denominado ekphrasis, segundo o defin<strong>em</strong> estudos recentes, abarcaria<br />
as representações escritas de representações visuais. James A. W. Heffernan, na<br />
sua obra Museum of Words: The Poetics of Ekphrasis from Homer to Ashebery,<br />
define ekphrasis como: “the literay representation of visual art” (Herrfernann,